No âmbito da exposição individual de Francisco Tropa, Amo-te, destaca-se o filme Caracol (2006), que também está representado na Coleção da Caixa Geral de Depósitos. A exposição, com curadoria de Ricardo Nicolau, está patente no Museu de Serralves, no Porto, de 8 de novembro 2024 a 11 de maio de 2025.

O trabalho de Francisco Tropa revela-se uma pesquisa experimental e performativa por territórios que cruzam o mitológico, a arqueologia, a escultura, a antropologia e o teatro. O artista utiliza processos que indagam os dispositivos museográficos, a história de arte e a fixação de conceitos e ideias pré-concebidas. Temas como o corpo, a morte, a natureza e o tempo estão sempre presentes nas suas obras, questionando as categorias artísticas e científicas convencionais que permitem desafiar misticamente os espectadores e o entendimento que estes apreendem. No filme Caracol o artista condensa os seus temas e preocupações primordiais que refletem sobre as condições de visibilidade dos objetos artísticos. O artista filma, em grande plano, uma mão quieta que segura um caracol, que por sua vez sustém uma folha de laranjeira e simultaneamente caminha sobre ela. Esta coreografia ensaia os movimentos lentos e aleatórios do caracol e expressa o seu próprio tempo em contraponto com a mão gélida que o sustêm. As relações estabelecidas entre mão, caracol e folha revelam-se ”operações ardilosas sobre a capacidade de transfiguração que se encontra no processo artístico que é uma máquina de converter umas coisas em outras, de mudar o estatuto e a simbólica do que está perante nós.” (Delfim Sardo). Este jogo de camuflagem, ou “espírito da charada sem solução” (João Sousa Cardoso), entendido como uma ficção construída pelo artista, confronta o espectador sobre o que vê e o que sente e “traí a intensidade da percepção que os resume ao momento ou ao intervalo de tempo da sua apresentação.” (João Fernandes).

Nascido em 1968 em Lisboa, cidade onde vive e trabalha, Francisco Tropa estudou no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, e no Royal College of Arts, em Londres. Completou a sua formação académica KunstakademieMünster, Alemanha (1995-1996), como bolseiro da Alfred Topfel Foundation. O seu trabalho tem tido reconhecimento nacional desde a década de 90, com exposições nas principais instituições portuguesas: Museu de Serralves (1998, 2006 e 2010), no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (2003) e na Culturgest (2006). Desde o final dos anos 90 a sua carreira tem tido visibilidade internacional, nomeadamente, na apresentação de obras na Bienal de Veneza (2011), na Bienal de Rennes (2012), na Bienal de Istambul (2011), na Manifesta (2000), na Bienal de Melbourne (1999) e na Bienal de São Paulo (1999).

Hugo Dinis

FRANCISCO TROPA
Caracol
2006
Filme 16mm, cor, sem som
12’30’’
Inv. 653559
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