Em homenagem à vida e obra de Manuel Cargaleiro, falecido a 30 de junho de 2024, a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a obra Gesto no tempo – Beira Baixa (1981-83), que pertence ao seu acervo desde 1983.

Nasceu na pequena aldeia de Chão das Servas, no concelho de Vila Velha de Rodão. Quando tinha apenas 2 anos de idade a família muda-se para o Monte da Caparica, Almada. Em 1945 inicia as suas primeiras experiências em barro na olaria de José Trindade. Em 1946, inscreve-se no curso de Ciências Geográficas e Naturais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mas frequentava as aulas livres da Academia de Belas-Artes. Dedica-se exclusivamente às artes plásticas e trabalha como ceramista na Fábrica Sant’Anna, em Lisboa. Desde 1949 que participa em diversas exposições individuais e coletivas. Em 1954 inicia a sua atividade como professor de cerâmica na Escola Artística António Arroio, em Lisboa. Após realizar inúmeros painéis de azulejos – nomeadamente, para a Cidade Universitária de Lisboa, o Jardim Municipal de Almada, a Igreja de Santo António, em Moscavide – fixa residência em 1957, em Paris. Ao longo da sua carreira realizou projetos de cerâmica que amplificaram o conhecimento da sua obra, como a fachada do Instituto Franco-Português de Lisboa (1983), a Estação Colégio Militar/Luz do Metropolitano de Lisboa (1988) e a Estação de metro Champs Elysées-Clémenceau de Paris (1995), entre outros. A sua obra também se estendeu pela pintura, desenho e gravura, mas sempre com uma forte componente como ceramista: “Comecei a minha vida de artista como ceramista e sou ceramista mesmo quando faço pintura a óleo. Não consigo imaginar uma coisa sem a outra. As minhas duas práticas, claro que se influenciam mutuamente. Não posso esquecer todos os meus conhecimentos sobre a história da faiança ou sobre a decoração mural quando pinto, assim como não esqueço a minha cultura pictórica quando crio em cerâmica. Está tudo muito ligado, e é isso que constitui a minha especificidade.” (Manuel Cargaleiro) O seu gosto por estruturas vegetais da natureza não será desenraizado da sua prática pictórica, bem como o conhecimento sobre a técnica de composição modelar e a aproximação às cores azul e branco do azulejo tradicional português. As suas pinturas, das quais Gesto no tempo - Beira Baixa também se inclui, revelam um desenho estrutural muito minucioso e preciso que se transforma em espaços espaciais e arquitetónicos. Com forte inspiração na obra da pintora Maria Helena Vieira da Silva, de quem era muito próximo, as pinturas de Cargaleiro evocavam uma persistência do abstracionismo parisiense dos anos 40.

Em 2011, o Município de Castelo Branco, em parceria com a Fundação homónima, inaugura o novo espaço do Museu Cargaleiro, dedicado à sua obra e coleção. Recebeu inúmeras condecorações e medalhas pelo seu papel na cultura: Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Portugal (1983; Grau de Officier des Arts et des Lettres, França (1984); Grã-Cruz da Ordem do Mérito, Portugal (1989); Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, Portugal (2017) e Grã-Cruz da Ordem de Camões, Portugal (2023).

Hugo Dinis

Manuel Cargaleiro
Gesto no tempo - Beira Baixa
Óleo sobre tela
145,5 x 113,8 cm
Inv. 213273
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