REVELAR A LIBERDADE

"(...) Lembro-me que a São Lopes contava que havia sempre pides a vigiarem a casa e mesmo quando íamos para a praia - éramos crianças - os pides faziam questão de se meterem no meio do grupo mesmo para impor a presença. Elas [monitoras] agarravam nas nossas mãos com força para não repararmos. Eu não me lembro de nada, mas os mais velhos lembram-se dessas presenças assustadoras." 

Valentina Marcelino (participante da colónia em 1972)

Férias em Liberdade

Junho e Agosto de 1972

 

Partindo de uma investigação da jornalista Joana Pereira Bastos para o jornal Expresso, Férias contra ditadura, Marco Martins revisita os acontecimentos vividos entre Junho e Agosto de 1972 numa inédita colónia de férias organizada pela Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, com o apoio da Amnistia Internacional, para filhos de presos políticos num casarão das Caldas da Rainha. 
Em 1994, Valentina Marcelino - que aos 3 anos de idade esteve na colónia de férias -, na altura jornalista no Expresso, agora atual diretora adjunta no Diário de Notícias, publicou uma reportagem a partir dos testemunhos de crianças e monitoras. Joana Pereira Bastos, em 2021, publicou o artigo que resultou do encontro fortuito com uma publicação no Facebook de uma das monitoras responsáveis na colónia. 
Marco Martins cruza-se com a investigação da jornalista Joana Pereira Bastos e, desta feita revisita os acontecimentos vividos entre Junho e Agosto de 1972, convocando a palco antigos presos políticos, crianças e monitoras presentes na colónia e atores. Uma sucessão de encontros aos quais nos juntamos agora. Procurámos saber mais sobre como tudo aconteceu: a colónia de férias e a investigação sobre a mesma. Neste microsite contámos com Valentina Marcelino e Joana Pereira Bastos, cúmplices na nossa vontade de desvendar mais detalhes antes de uma das estreias mais aguardadas da temporada.
© Beatriz Pequeno.
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Hino de Caxias

por B Fachada

"Vá camarada mais um passo
Que já uma estrela se levanta
Cada fio de vontade são dois braços
E cada braço uma alavanca (...)"

 

Crescer sem os pais

 

“É inimaginável o que é ser criança e assistir à prisão dos pais. Uma prisão envolta em grande violência. Ficar sem os pais, crescer sem eles. É inimaginável o sofrimento de uma criança a quem é dito, por exemplo, que não pode sair à rua, não pode brincar com outras crianças, que não pode falar (…) e ser-lhes dito que os pais estão a ser perseguidos por homens maus e, portanto, a qualquer momento podem ser apanhados, presos.”  

 

“Estas crianças foram apanhadas numa escolha dos pais - numa escolha de enorme coragem dos pais, obviamente isso não está em causa - mas elas acabaram por pagar o preço mais alto. E eu acho que isso nunca foi reconhecido pelo país.”

 

"Houve mais de 30 mil presos políticos durante o Estado Novo. Foram milhares de crianças que, em algum momento, viram os pais serem presos, que passaram pela clandestinidade, que sofreram com o sofrimento dos pais, sem terem capacidade de entender o que estava em causa.”

Joana Pereira Bastos (jornalista Expresso)

“Foi através de um grupo de Facebook chamado Fascismo Nunca Mais. Vi uma publicação que falava dessa colónia de férias e que tinha uma fotografia partilhada por uma das monitoras. Fiquei fascinada por permitir abordar o lado do impacto da ditadura nos familiares dos presos políticos.”

Joana Pereira Bastos

“Eu era jornalista no Expresso há 5 anos e a colónia era uma história que eu ouvia muito falar em minha casa e estava sempre a perguntar sobre como tinha ido lá parar, etc. O facto de ser jornalista levantou-me ainda mais curiosidade e achei interessante contar a história dessa colónia.”

Valentina Marcelino
© DR.
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A colónia salvou a minha vida

 

“A Manuela Canais Rocha, uma das crianças, dizia: a colónia salvou a minha vida. Porque ela nasceu e cresceu na clandestinidade até aos 6 anos, quando os pais foram presos. Até aos 6 anos nunca tinha visto outra criança, nem sequer sabia que existiam outras crianças no mundo. Aos 6 anos, é presa 3 semanas com a mãe (…). Só quando chegou à colónia, aos 9 anos, é que percebeu que não era uma aberração e estou a citá-la:

"Eu teria enlouquecido se não fosse a colónia. A colónia salvou-me a vida, porque eu percebi que havia outros como eu. Eu não os vejo há 50 anos, nunca mais os vi na minha vida, mas desde aí sei que não estou sozinha."

Joana Pereira Bastos

“Para mim tem sido quase uma terapia. Todos os medos que tinha na altura, com a idade e o crescimento, fui resolvendo, mas agora estou a regressar a eles. E realmente deixa-nos a pensar: como é que há regimes que permitem que estas coisas aconteçam às crianças?”

Valentina Marcelino

“Foi muito importante quando soube que a Joana tinha feito a reportagem, porque ali teve oportunidade de contá-la com todas as personagens, incluindo comigo. Foi importante poder falar sobre o assunto já como participante e não como jornalista. E parabéns à Joana.”

Valentina Marcelino
FICHA TÉCNICA

ÁUDIOS
Joana Pereira Bastos, Valentina Marcelino

IMAGENS
Beatriz Pequeno

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo

INSERIDO NO PROGRAMA

APOIO

COPRODUÇÃO