Humanidade (re)imaginada

"Na origem dos mitos ocidentais da relação do humano com a técnica, encontramos recorrentemente um ideal trágico no qual se joga tanto o desafio da superação sempre incompleta do humano, como a sua subjugação a uma exterioridade, a do artificial, que teme não dominar completamente.

Trata-se de uma matriz polarizada que reencenou cenários ora salvíficos ora apocalípticos, à medida que a história do progresso técnico introduzia novas possibilidades. Mas a essa evolução material não foi indiferente uma outra história, a dos imaginários através dos quais a relação humano-técnica foi codificada de acordo com enviesamentos de ordem étnica, racial, de classe ou de desqualificação.
Num momento em que que a noção de (pós)-humano parece corresponder a mais uma dramatização destas questões, procuramos indagar formas de re-imaginar representações relativas aos corpos, à subjectividade, a uma ideia de inteligência generalizada ou àquilo que não cabe na própria categoria histórica do humano."

Manuel Bogalheiro (curadoria)

Capa de <em>The Crystal World,&nbsp;</em>de J. G. Ballard (primeira edi&ccedil;&atilde;o, Jonathan Cape, 1966)<br />
&nbsp;Capa de <em>The Crystal World,&nbsp;</em>de J. G. Ballard (primeira edi&ccedil;&atilde;o, Jonathan Cape, 1966)<br />
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Capa de The Crystal World, de J. G. Ballard (primeira edição, Jonathan Cape, 1966)
 

A mente do homem é um ovário não usado

A Inteligência Artificial antes das Tecnologias de informação

Ana Teixeira Pinto | 30 OUT | 19:00

Still do filme <em>Cherry 2000</em> (Steve De Jarnatt, 1987)Still do filme <em>Cherry 2000</em> (Steve De Jarnatt, 1987)
Still do filme Cherry 2000 (Steve De Jarnatt, 1987)

"No verão passado, muitos especialistas do sector de inteligência artificial (IA) deram entrevistas alarmantes aos meios de comunicação social, especulando que os recentes desenvolvimentos da inteligência artificial podem levar à extinção da humanidade.

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Tratando concepções metafísicas da mente como uma  pré-história da inteligência artificial, esta apresentação analisa aspirações e ansiedades culturais que excedem aquilo que a tecnologia permite, mas que vieram a definir o que a tecnologia conota. As ficcionalizações e personificações da IA, em particular, pré-existem às tecnologias da informação (TI) e podem ter pouco a dizer sobre tecnologia, ciência ou economia, mas têm muito a dizer sobre fantasias evolutivas, masculinidade, ou sobre a fronteira do humano e a busca da imortalidade."

 

SOBRE ANA TEIXEIRA PINTO
Sediada em Berlim, é escritora, crítica, curadora e teórica cultural. É professora convidada na Academy of Fine Arts Nuremberg (AdBK) e tutora de teoria no Dutch Art Institute. Os seus textos surgiram em publicações como Third Text, Afterall, e-flux journal, Manifesta Journal e Texte zur Kunst. Colabora com a Stenberg Press como editora de uma série sobre a 'viragem antipolítica'. Juntamente com Kader Attia e Anselm Franke, organizou a conferência e a série de podcasts "The White West: Whose Universal", que teve lugar na HKW Berlin. Integrou a equipa artística da Bienal de Berlim de 2022.

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Lou Cantor, The Oracle (2023)

Trabalho afectivo e mente ampliada

Uma conversa com Lou Cantor

30 OUT | 16:30

“Vives agora num mundo no qual sistemas inteligentes mais complexos ditam a tua própria existência”, diz a voz sintetizada do avatar não-humano Oracle num vídeo do projecto Spiritual Reality do colectivo Lou Cantor. Através de um conjunto de exercícios de ficção especulativa, o projecto confronta a actual percepção da consciência e da subjectividade humanas com as possibilidades, nomeadamente criativas, de tecnologias emergentes como o Chat GPT. "

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Problematizando o dualismo humano-máquina, e assumindo a perspectiva de uma intersubjectividade, questiona-se nestes exercícios a relação intrincada entre momentos decisivos da história da inteligência artificial e imagens culturais dominantes sobre o comportamento, o afecto, o trabalho, a identidade, a formação de conhecimento, a própria noção de inteligência ou as formas supostamente arcaicas de espiritualidade que persistem nos imaginários digitais actuais.

 

SOBRE LOU CANTOR Um coletivo de artistas sediado em Berlim, fundado em 2011 e atualmente constituído por Jozefina Chetko e Kolja Glaeser. O seu principal âmbito de interesse incide na noção de intersubjetividade e na comunicação interpessoal. O trabalho do coletivo explora o campo polissémico da comunicação contemporânea, no qual meio, mensagem e significado se entrecruzam constantemente uns com os outros. Assumem como teatro de operações preferido aquele que um certo teórico francês designou por "Império dos Signos" (Roland Barthes), sendo o seu tema preferido o feitiço lançado pelo enigma da significação nas mentes dos povos desse Império. A partir do seu campo de investigação artística e teórica, lançam regularmente volumes colectivos (Sternberg Press/The MIT Press) e contribuem para várias publicações.

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Lou Cantor – Speculative Fiction 2: Utopian
Lou Cantor – Speculative Fiction 2: Utopian

Mitologias (Pós-) humanas e Ficções Tecnológicas

(de)MONSTRAS

imaginários, corporalidades e materialidades anfíbias

Aida Castro, Maria Mire, Ana Carolina Fiuza, Catarina Braga

30 OUT | 16:30

 

A partir do termo corpos-media, considera-se em específico os corpos limítrofes, complexos e problemáticos, não apenas aqueles tidos como monstruosos, mas também os protésicos, não-normativos, híbridos que circulam nas fronteiras e, por isso mesmo, vão circunscrevendo os limites do humano: assume-se a categoria de um corpo medial, epistemologicamente operativo das suas próprias metodologias de revelação, e ainda como uma categoria que permite figurar mais e outros corpos.

Um dos objetivos das pesquisas é realizar uma arqueologia destes corpos-media, sabendo que cada estudo revelará articulações ativadas pelo corpo-media em questão: as matérias, as linguagens e as políticas corporizadas.

Iniciando na Harpie, percorre os corpos tecnocientíficos como o cyborg, outros que surgem nas mediações das práticas artísticas, os que se movem entre elementos distintos como as plantas e ainda os que se anunciam nas atuais produções técnicas e culturais, tentando perceber que imaginários reclamam.

 

Site projeto (de)Monstras

 

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SOBRE PROJETO (de)MONSTRAS 
Construído por quarto investigadoras, (de)MONSTRAS decorre no centro de investigação ICNOVA da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa com apoio da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto UIDB/05021/2020. Estão reunidas nesta construção Aida Castro (coord.), artista, investigadora e docente em torno das relações entre arte e tecnologia, das práticas dos imaginários e das mediações das práticas artísticas. É doutorada em Ciências da Comunicação - Comunicação e Artes pela NOVA FCSH. Ana Carolina Fiuza, doutoranda no Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH, cujo projeto busca traçar uma genealogia dos corpos artificiais, tecnologicamente mediados, enquanto estratégia de problematização das corporeidades emergentes na atualidade. Catarina Braga, artista, investigadora e escritora especulativa, mestre em Artes Plásticas­ ­ - Intermedia pela FBAUP, investiga como a mediação tecnológica molda a nossa relação com a natureza, abordando processos de cultivo de plantas e processos de produção de imagem. Maria Mire, artista, investigadora e docente, cujo trabalho artístico e de investigação é centrado nas questões da perceção da imagem em movimento e nas fantasmagorias técnicas das práticas artísticas. É doutorada em Arte e Design pela FBAUP. É realizadora de "Parto sem dor" (2020) e “Clandestina" (2023), dois filmes documentais-experimentais.

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Filmes em que o pós-humanismo foi personagem principal

 

Representações do mundo, limites entre o humano e o não-humano, os possíveis caminhos da transformação tecnológica. Na incerteza de qual será a nossa relação com a tecnologia no futuro, o cinema ocupou-se desde cedo de nos mostrar imagens que apontavam para um caminho mais ou menos pessimista, distópico ou ficcionado.
Aproveitámos as duas conversas que vão decorrer na Culturgest sobre o tema Mitologias (Pós-)Humanas e Ficções Tecnológicas para recordar alguns dos filmes em que o pós-humanismo foi a personagem principal:
Still Metropolis (1927), de Fritz Lang
Still Metropolis (1927), de Fritz Lang
Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard
Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard
2001: Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick 
2001: Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick 
World on a Wire (1973), de RW Fassbinder
World on a Wire (1973), de RW Fassbinder
Westworld (1973), de Michael Crichton
Westworld (1973), de Michael Crichton
Golem (1980), de Piotr Szulkin
Golem (1980), de Piotr Szulkin
Blade Runner (1982), de Ridley Scott
Blade Runner (1982), de Ridley Scott
Videodrome (1983), de David Cronenberg 
Videodrome (1983), de David Cronenberg 
Endgame (1983), de Joe D’Amato
Endgame (1983), de Joe D’Amato
FICHA TÉCNICA

Mitologias (Pós-)humanas e Ficções Tecnológicas é parte integrante do projeto Contemporânea Film(e) que, ao longo de 2024, apresenta ainda uma exposição, uma publicação e um ciclo de cinema. Uma proposta colaborativa que abrange várias disciplinas e instituições.

Organização Contemporânea em parceria com a Culturgest

DIREÇÃO ARTÍSTICA
Celina Brás

APOIO
DGARTES, República Portuguesa

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo