Em tempos de crise planetária há quem procure criar condições para uma "boa vida" face à crise climática, à grande desigualdade social e económica e à guerra. Uma multiplicidade de experiências sociais e práticas de construção de comunidades têm surgido em todo o mundo. Estas novas instituições formam já uma rede que experimenta e implementa modos de entreajuda de auto-organização.
Olhamos estes exemplos de ilhas futuras para continuarmos a pensar formas de habitar o mundo.
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O caso da Ilha de Vis
Durante a Segunda Guerra Mundial, após a ocupação fascista que durou dois anos, Vis tornou-se o ponto de partida para a fase final da luta de libertação antifascista da Jugoslávia. Retirada de mapas turísticos, a ilha funcionou entre 1944 até ao colapso da Jugoslávia em 1991 como base militar. Permaneceu relativamente intocada pelo turismo global até ao final da década de 1990.
Para além do contexto história, Vis destingue-se na geologia do território. O Arquipélago de Vis é parcialmente constituído pelas rochas mais antigas do Mar Adriático. Além disso, beneficia das suas próprias fontes de água, ao contrário das restantes ilhas do Adriático.
As características geográficas, geológicas e históricas de Vis contruibuiram para a seleção do local para a implementação da Escola Insular de Autonomia Social. Considera-se assim que o próprio ISSA e a ilha de Vis estabelecem uma relação dialética essencial entre autonomia e dependência, natureza e sociedade, local e global.
Escola Insular de Autonomia Social
A Escola Insular de Autonomia Social (ISSA - Island School of Social Autonomy) é um lugar que experimenta e cultiva formas de produção e partilha de conhecimentos que vão para além das noções tradicionais de educação e do seu objetivo. Promove modos de vida que vão para além da mera sobrevivência na “era da extinção”.
Entende a autonomia social como a capacidade de indivíduos funcionarem como membros de um grupo cooperativo, envolvendo-se na auto-governação comunitária, ao mesmo tempo que estão conscientes da interdependência das comunidades dentro de redes mais amplas (ou arquipélagos) de organização da vida humana e não-humana. Para esta organização a autonomia não implica isolamento, mas sim a capacidade de tomar decisões autónomas, através de mecanismos de deliberação coletiva, sobre como viver em conjunto e assumir a responsabilidade de cuidar daqueles que não são capazes de as tomar (crianças, mundos vivos não humanos, etc.)
A ISSA tem o objetivo de cultivar formas de viver, aprender e ensinar em conjunto. Procura explorar a autonomia como uma estratégia política e um modelo de organização social.
> !Mediengruppe Bitnik
São uma dupla de artistas contemporâneos que trabalham com e na Internet. A sua prática estende-se do domínio digital para afetar espaços físicos, desafiando estruturas e mecanismos estabelecidos. São conhecidos por subverterem câmaras de vigilância, colocarem escutas numa ópera para transmitir espetáculos, enviarem uma encomenda com uma câmara para Julian Assange, alterarem fisicamente um edifício e enviarem um bot para uma maratona de compras na darknet durante três meses. Receberam prémios como Swiss Art Award, o PAX Art Award e o Golden Cube do Dokfest Kassel. bitnik.org
> Srećko Horvat
Srećko Horvat (Osijek, Croácia, 1983), é filósofo e autor de livros como After the Apocalypse (Polity Press, 2021), Poetry from the Future (Penguin, 2019), The Radicality of Love (2015), What does Europe Want? com Slavoj Žižek (Columbia University Press, 2013). Reconhecido pelo semanário alemão Der Freitag como "uma das vozes mais entusiasmantes da sua geração" e "voz dissidente na paisagem pós-jugoslava". Conta com publicações em jornais como The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Newsweek, Al Jazeera, Jacobin.
> Marko Pogačar
Marko Pogačar (1984, Split, Croácia), publicou dezasseis livros de poesia, ensaios e prosa, pelos quais recebeu prémios nacionais e internacionais. Em 2014, editou a antologia Young Croatian Lyric, seguida de The Edge of a Page: New Poetry in Croatia (2019). Foi bolseiro e participou em diversos programas de residência, incluindo Civitella Ranieri, LCB, Récollets-Paris, Lyrik Kabinett e DAAD Berliner Künstlerprogramm. Mais de trinta das suas publicações foram traduzidas para mais de doze idiomas.
Que futuro para a Europa?
A Escola Insular de Autonomia Social, na ilha de Vis, é um entre vários projetos que têm implementado modos de entreajuda e práticas de cuidado que não se alinham com convenções sociais de produtividade e eficiência. Um ativismo que se move por restabelecer relações ecológicas e relações de semelhança pensando as comunidades locais como uma rede de entreajuda e contacto.
DiEM25, movimento progressista pan-europeu, fundado por personalidades como Yanis Varoufakis, Slavoj Zizek, e Noam Chomsky, segue esta linha de pensamento. É a partir destas práticas e modos de convívio que nos juntamos para falar sobre estes projetos. Que desafios enfrentam? Como implementar estes modelos em grande escala, como é o caso das cidades? Como assegurar este modelo em países com características tão distintas do ponto de vista geográfico, mas também político na sua gestão de recursos?