Como se faz
uma sala cantar?

"(...) a voz como um instrumento que podia usar tanto alto como baixo, que tinha a capacidade de, num certo sentido, manifestar movimento, como a forma como a mão se move, ou pode saltar, girar, cair, que dentro dela havia personagens ou personas de diferentes idades, paisagens."

Meredith Monk

Meredith Monk – ‘I Believe in the Healing Power of Art’ | Artist Interview | TateShots

O experimentalismo colorido de Meredith Monk chega-nos ao lado da bateria inventiva de John Hollenbeck.

Em Duet Behavior 2025 ouvimos música nova, mas também música criada a partir de cinco décadas de produção artística de alguém que nunca se deixou acomodar, tornando-se uma figura única na pesquisa e composição vocal.

Duet Behavior 2020

Meredith Monk em discurso direto

entrevista completa

Marina Rosenfeld: Como negoceias o espaço enquanto compositora, performer e coreógrafa? Como pessoa que executa o movimento parece-me que procuras utilizar todo o seu potencial enquanto ser humano.

Meredith Monk: O espaço é fundamental. Digo sempre nas aulas e a quem trabalha comigo: o espaço é nosso aliado. A primeira peça que representei em Nova Iorque foi Break, nas Galerias Washington Square, em 1964. Era um solo, mas utilizei toda a galeria. Era muito site-specific - era essa a minha orientação na altura. A primeira parte do meu processo era entrar num espaço, ouvi-lo e tentar perceber o que ele precisava ou queria. Também fui influenciada pela minha formação de infância em Dalcroze Eurhythmics - um método de ensino da música através do corpo, desenvolvido por Émile Jaques-Dalcroze no início do século XX.

Para mim, o que o som faz no espaço é primordial: como é que se faz uma sala cantar?

MR: Sabes quais são os limites de altura e frequência da tua própria voz ou não há limite para isso? Porque, por vezes, vais muito alto.

MM: Bem, no início dos anos 70, fiz uma peça chamada Do You Be. Normalmente, levo muito tempo a compor uma coisa, mas esta saiu-me numa tarde, diretamente do meio do meu corpo. Nem sequer tenho palavras para descrever. Não se consegue chegar a essas notas altas apenas pela garganta, elas vêm da respiração e da força no centro do corpo. Essa é a coisa mais bonita de cantar, lembro-me de ter o corpo todo cheio - é a única forma de o explicar - e depois as notas altas saíram a voar. Não houve qualquer esforço. É para esses momentos que vivemos: quando estamos a voar e podemos contar com a força do nosso corpo. Se o nosso corpo estiver cansado e não tivermos esse apoio do centro é muito mais difícil. Cantar é uma coisa que envolve todo o corpo.

Para coincidir com a abertura da minha atual exposição retrospetiva, Calling, no Oude Kerk em Amesterdão, dei um concerto com Katie Geissinger e Allison Sniffin, ambas elementos de longa data do meu grupo. Senti que a minha voz estava a elevar-se naquele espaço. Era como se estivéssemos a respirar, mas também a navegar no espaço. Foi ótimo. Tenho a certeza que já experimentaste isso, como um espaço com ressonância é incrível para atuar.

Entrevista de Marina Rosenfeld a Meredith Monk, Frieze
30 JAN 2024

> Meredith Monk e a revelação da voz | ECM Records

“Uma das grandes inovadoras da música contemporânea”.

-Michael Quinn, The Classical Review

“...é destemida, única, intransigente e, em simultâneo, constrói valores humanos num trabalho que nunca é polémico e que comunicou para além das fronteiras dos géneros muito antes de crossover ser sequer um termo.”

-Anne Midgette, The Washington Post

Puro Experimentalismo

Ao longo de cinco décadas, Meredith Monk desafiou os limites da música vocal, da performance e do teatro. Nesta temporada, recebemos Monk, acompanhada por John Hollenbeck, num concerto intimista… já esgotado! Aproveitamos, ainda assim, para revisitar Turtle Dreams, single de 1983, que mistura minimalismo vocal e música experimental, transportando quem ouve para um estado meditativo. Este single e filme refletem a busca contínua de Monk em dissolver as fronteiras entre movimento, som e imagem. Escutemos.
FICHA TÉCNICA

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

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