COMO ACREDITAR NAS FERAS?

“Foi no coração dos glaciares e no meio dos vulcões, longe dos homens, das árvores, dos salmões e dos rios que o encontrei, ou que me ele me encontrou.”

Nastassja Martin
 
Em 2015, um encontro inesperado e violento entre a antropóloga Nastassja Martin e um urso deu lugar a um relato político sobre o embate entre o humano e o animal.
Nastassja vem à Culturgest para nos falar de como Acreditar nas Feras e partilhar o documentário Tvaïan que retrata a vida de Daria, a chefe do clã Evan, que decide voltar a habitar a floresta depois da queda da União Soviética. Neste microsite mergulhamos na experiência da antropóloga e contemplamos as diferentes possibilidades de reconciliação com a natureza.
> Conversa entre Ailton Krenak e Nastassja Martin sobre as diferentes formas de respeitar a natureza e de como a Terra possui a sua própria sabedoria.
Acreditar nas Feras é uma obra singularmente poética, feita de esperas e de promessas: a espera da convalescença, nos hospitais da Rússia e de França, a promessa da Primavera, nas longas noites do Inverno siberiano. Mas, sobretudo, acima de tudo, é uma obra feita de regressos e de conciliações: de uma mulher com um animal feroz e com um mundo mais hostil ainda, e, principalmente, dessa mulher consigo própria e com os seus muitos fantasmas. Um belo livro para estes dias, enquanto o mundo se desmorona.”

António Araújo, Público

Tvaïan

um filme de Mike Magidson e Nastassja Martin

Em 1989, após a queda da União Soviética, Daria, a chefe do clã Even, decide deixar a sua aldeia e voltar a viver na floresta com os seus cinco filhos. Viajando pelas florestas profundas de Kamchatka, Mike Magidson e Nastassja Martin vão ao seu encontro. Através de uma experiência cinematográfica íntima da sua vida quotidiana, revelam o destino da família que encontrou uma resposta para o colapso de um sistema político, reavivando as suas ligações animistas com os seres e elementos naturais. 
“Estas pessoas são extremamente reflexivas porque elas vêem as mudanças ao vivo. Elas estão na catástrofe”, explica-nos Nastassja Martin, que recorda que os evenos são também exímios a rirem-se perante a desgraça, no uso da gargalhada enquanto antídoto para a dimensão trágica que os envolve.
Essa força dá esperança à antropóloga, que nos últimos anos vai comunicando com os seus amigos evenos pelas redes sociais, ou em sonhos, com Daria. Os sonhos, onde ainda há espaço para o mundo surgir. “Retiras tudo das pessoas, retiras a vida, a cultura indígena, o ambiente natural. Mas ninguém vai retirar os teus sonhos”, diz. “Sonhar é o lugar perfeito de resistência."
(excerto do artigo Nastassja Martin: “Sonhar é o lugar perfeito de resistência”, de Nicolau Ferreira)

Tvaïan é uma viagem íntima ao coração de uma das florestas mais remotas do planeta. Perante o atual momento histórico, em que a relação da humanidade com o ambiente entrou em crise profunda, Tvaïan convida-nos a contemplar as diferentes possibilidades de reconciliação com a natureza.

Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.
Still de Tvaïan © Point du Jour.

Sobre Nastassja Martin

Nastassja Martin (Grenoble, 1986) estudou Antropologia na École des hautes études en sciences sociales, onde completou a tese de doutoramento sob a orientação de Philippe Descola. Elegeu como áreas de estudo o animismo e as cosmologias do Extremo Norte, que atestam a perenidade de relações com a natureza desconhecidas da modernidade ocidental.
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Realizou trabalho de campo e viveu entre povos ameaçados pela exploração da terra e dos recursos minerais: os Gwich’in, no Alasca, e os Evenos, na península siberiana de Camecháteca, cujas línguas aprendeu. Entre glaciares e vulcões, ouviu o apelo da vida selvagem e desde então escreve «a respeito dos confins, da margem, da liminaridade, da zona fronteira, do entre‑dois‑mundos; acerca desse lugar tão especial onde assumimos o risco de nos alterarmos, de onde é difícil regressar». É autora, entre outras obras, de Les âmes sauvages — Face à l’Occident, la résistance d’un peuple d’Alaska (2016).
 
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