Tiago Rodrigues para o espetáculo Na Medida do Impossível entrevistou profissionais de ajuda humanitária. Para o microsite dedicado à peça, partilha o seu processo de construção e o olhar que tem sobre o espetáculo depois de uma digressão de dois anos, com mais de 120 apresentações por todo o mundo.
Descubram as reflexões de quem pensa as fronteiras que separam o possível do impossível.
A ajuda humanitária é um ponto de partida
"A primeira vez que pensei fazer uma peça sobre a questão da ajuda humanitária estava em digressão em Genebra e comecei a encontrar muitos trabalhadores em ajuda humanitária que estavam lá, nas suas organizações como a Cruz Vermelha Nacional, Médicos Sem Fronteiras. Foram ver vários dos espetáculos que eu apresentei em Genebra e começamos conversas. Comecei a interessar-me por esse universo, a ler sobre o assunto e a acompanhar um pouco, ainda sem saber que ia fazer uma peça, mas já com a sensação de que o assunto me poderia interessar um dia.
+ Keep ReadingUm ou dois anos mais tarde, quando já tinha esta pequena obsessão na cabeça, Comedie de Geneve convidou-me a criar uma espetáculo produzido por eles. Uma espécie de carta branca do que eu quisesse saber e, na altura, eu disse-lhes que me interessava a questão da ajuda humanitária e que achava que tinha uma relação com Genebra que é, de alguma forma, uma cidade, para já com a Convenção Genebra, marcada pela questão da ajuda humanitária e do direito internacional, mas também é sede e lugar de fundação de muitas organizações de ajuda humanitária. A ideia era acompanhar algumas missões de ajuda humanitária e foi mesmo no início da pesquisa para a peça que teve início a pandemia. Face ao primeiro confinamento decidimos adiar a peça. Rapidamente, duas ou três semanas depois, em pleno confinamento, comecei a dizer a mim mesmo que é um bocado imbecil fazer uma peça sobre pessoas que nunca trabalham em condições ideais, ou seja, pessoas que trabalham em conflito, em catástrofe, em urgência, mas eu queria as condições ideai. Então resolvi fazer a peça à mesma.
Achei que era também boa resposta ao facto de estarmos em crise em toda a sociedade, em todo o mundo. De formas desiguais. O sul global, sofreu a pandemia de uma forma muito mais profunda e com muito menos conforto, mas foi de alguma forma uma crise global. Na altura quis trabalhar e responder também ao tema dizendo: que as condições não eram as ideais, mas ia fazê-lo à mesma. E é assim que surge a ideia de começar a fazer entrevistas que se prolongaram quase até ao dia da estreia, quando já não havia confinamento, quando estávamos em ensaios no final de 2021, no início de 22, em Genebra, e com dezenas de trabalhadores em ajuda humanitária que contaram as suas histórias e a sua experiência. Isso fez com que a peça deixa-se de ser uma peça sobre a ajuda humanitária do ponto de vista de alguém que foi testemunhar missões de ajuda humanitária e passa-se a ser uma peça sobre como os trabalhadores em ajuda humanitária vêem o mundo."
- ResumeA força de quem cuida
“O mundo surpreende-nos na forma como uma peça pode fazer ricochete com a realidade"
A peça por falar de conflito, por falar de guerra, mas sobretudo por falar da humanidade que pode ser preservada - da reserva de esperança até à última possibilidade da sua existência, que está presente em muitas destas histórias - inevitavelmente, se a fizermos daqui a quatro anos, uma percentagem de realista que há em mim, diz-me que daqui a 4 anos ela vai fazer ricochete com qualquer coisa de terrível que se vai estar a passar no mundo."
+ Keep ReadingSobre Tiago Rodrigues
Tiago Rodrigues (Amadora, 1977) é ator, encenador, dramaturgo e produtor. Em 2003, fundou a companhia Mundo Perfeito com Magda Bizarro, através da qual criou e apresentou, ao longo de 11 anos, cerca de 30 espectáculos em mais de 20 países. Foi também professor de teatro em várias escolas. Paralelamente ao seu trabalho em teatro, escreveu argumentos para filmes e séries televisivas, artigos, poesia e ensaios. Alguns dos seus espectáculos mais reconhecidos são By Heart (2013), António e Cleópatra (2014), Bovary (2014) ou Sopro (2017), e as suas peças mais recentes são Catarina e a Beleza de Matar Fascistas (2020), Coro de Amantes (2021) ou Dans la mesure de l’impossible (2022). Já recebeu várias distinções nacionais e internacionais, destacando-se o XV Prémio Europa Realidades Teatrais (2018), o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras atribuído pelo Governo Francês (2019), o Prémio Pessoa (2019) e a Medalha de Mérito Cultural do Governo Português (2021). Foi Director Artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, entre 2015 e 2021. Atualmente, é diretor do Festival d’Avignon, sendo o primeiro não-francês a assumir a função naquela que é uma das mais importantes manifestações de teatro em todo o mundo.
- ResumeFICHA TÉCNICA
FOTOGRAFIA
Magali Dougados
VÍDEO
Romain Girard
EDIÇÃO
Carolina Luz
REVISÃO CONTEÚDOS
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