A quem se destina
Os destinatários desse novo teatro não serão os burgueses (que vão ao teatro para divertir-se e que, às vezes, se escandalizam) mas sim, os grupos avançados da burguesia constituídos pelos poucos intelectuais realmente interessados em cultura: progressistas de esquerda, sobreviventes do laicismo liberal e radicais. Esses grupos avançados não se divertirão nem se escandalizarão já que são semelhantes em tudo ao seu autor. Esta classificação é e pretende ser esquemática. Aconselha-se calorosamente a uma senhora que frequente os teatros da cidade que não assista às representações do novo teatro. Ou, caso se apresente com o seu simbólico, patético, casaco de vison encontrará na entrada um cartaz a explicar que as senhoras com casacos de vison deverão pagar um preço trinta vezes mais alto que o preço normal. Nesse mesmo cartaz, pelo contrário, estará escrito que os jovens fascistas de vinte e cinco anos poderão entrar de graça. Além disso, pediremos também que não aplaudam. Vaias e outras formas de desaprovação serão admitidas.
O teatro da palavra
O novo teatro quer definir-se como Teatro da Palavra. Incompatibiliza-se tanto com o teatro tradicional como com todo o tipo de contestação ao teatro tradicional. Remete explicitamente para o teatro da democracia ateniense, saltando completamente toda a tradição do teatro burguês, e porque não dizer a inteira tradição moderna do teatro renascentista e de Shakespeare. Espera se que o espectador oiça mais do que veja. As personagens são ideias a serem ouvidas.
Destinatários e espectadores
É um teatro possibilitado, solicitado e desfrutado no círculo cultural dos grupos avançados de cultura. É o único que pode chegar, não por determinação ou retórica, à classe operária. Já que esta se encontra unida por uma relação directa aos intelectuais. O Teatro da Palavra opõe-se ao teatro da conversa (tradicional) e ao teatro do gesto e do grito (não tradicional). Desta dupla posição nasce uma das principais características do Teatro da Palavra: a ausência quase total de acção cénica, desaparecendo quase totalmente a encenação. Reduzindo todos os seus elementos (luz, cenário, figurinos, etc…) ao indispensável. Não deixará de ser uma forma de rito (ainda que jamais experimentada). O seu rito não pode ser definido de outro modo que não seja um Rito Cultural.
O ator do teatro da palavra
O ator do Teatro da Palavra não terá que apoiar as suas faculdades com uma especial atração pessoal (teatro tradicional), ou numa espécie de força histérica messiânica (teatro não tradicional), explorando demagogicamente o desejo de espectáculo do espetador (teatro tradicional), ou enganando o espetador através da implícita imposição de fazê-lo participar num rito sagrado (teatro não tradicional). Terá que sustentar as suas faculdades na sua capacidade para compreender realmente o texto e ser assim, veículo vivo do próprio texto. Será melhor actor quanto mais o espectador, ao ouvi-lo dizer o texto, compreenda que o ator compreendeu. O ator do Teatro da Palavra terá de ser simplesmente um homem de cultura.
Epílogo
O Teatro da Palavra é um teatro completamente novo porque se dirige a um novo tipo de público. O teatro da Palavra não tem nenhum interesse espectacular, mundano, etc… o seu único interesse é cultural, comum ao autor, aos atores e aos espetadores, que portanto, quando se reúnem, cumprem um Rito Cultural.
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