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Things founded in silence

Things founded in silence

Things founded in silence

In 2011, the World Health Organisation described noise pollution as a “modern plague”, concluding that “there is overwhelming evidence that exposure to environmental noise has adverse effects on the health of the population”.

Silence is not a luxury, but is instead crucial to physical and mental health. Creativity, concentration, contemplation – all these things demand silence. However, silence cannot be celebrated acritically. Being silenced is what happens to the victims of abuse. Furthermore, what is considered bad noise is often controversial. Even silence has its politics.

For two days, writers and artists join architects, astrophysicists and philosophers to discuss the importance of silence. These conferences are part of a larger program, presented from March 3th to May 31th taking place in several locations, in Lisbon.

03 MAR 2020
TUE 16:00–18:00, 18:30–20:30

04 MAR 2020
WED 16:00–18:00, 18:30–20:30

Small Auditorium and Live streaming
Free entry*
Duration 2h

*Free entry, subject to availability tickets available on the day from 15:00 at the ticket-office

LGP + Audiodescription 3 MAR, TER 18:30

Users may inform the box office when purchasing their ticket or via email

culturgest.bilheteira@cgd.pt

Presentations Things Founded in Silence

Emília Tavares

A Afasia da Visão

A figuração do silêncio tem na iconografia da Idade Média uma das suas mais fascinantes interpretações. Partindo deste enunciado, será feita uma interpretação de algumas imagens fotográficas do século XIX, colocando em análise a sua capacidade paradoxal de figuração da presença e da ausência, de discurso e de silêncio. 

Ruben Gonçalves

O silêncio dos astros

O Universo é silencioso. É dominado pela ausência de matéria, pelo vazio. A matéria que somos é uma minoria espalhada num vasto campo de energia escura, invisível e silenciosa. No espaço o som não viaja, não se propaga. No entanto, as estrelas, para além de luz, também produzem som. O paralelismo entre luz e som é inevitável: ondas, propagação, perceção humana, poluição luminosa/sonora. Do big-bang aos nossos corpos, vamos ouvir as estrelas e olhar para os limites dos nossos sentidos.

Luís Cláudio Ribeiro

O silêncio, o corpo e a presença

O silêncio, tal como o som, é do domínio das afeções, logo individual, que se re-forma na sensibilidade com que escutamos. Unido aos verbos «escutar» e «ouvir» podemos pensá-lo sobre dois eixos: como uma tensão individual do interior para o exterior (é então uma pulsão para o silêncio), ou uma tensão do exterior para o interior, e temos assim as massas sonoras do mundo a interferirem na nossa vida, fundando-se em escolhas individuais na escala sonora.
Estes silêncios ou tipos de silêncio são distintos, quer na sua origem, quer nos efeitos. São de uma ontologia distinta, cruzando-se apenas quando a necessidade impera. A necessidade que parte sempre de um desejo instalado numa determinada situação. Temos a necessidade como «um estado interno de insatisfação causado pela falta de algum bem necessário ao bem-estar». Claro que este bem-estar é também determinado pelo desejo aí, provindo do exterior ou do interior.
Há falta de silêncio no mundo? Na evolução humana parece-nos que o que falta é ainda um problema de adaptação a uma vida que acelera tecnologicamente no tempo em que, periodicamente, vigiamos o passado. Não se fala aqui de um ruído que põe em causa a saúde auditiva e a própria vida. Também o silêncio desejado é, por vezes, causa da quebra de saúde e da própria vida: o fecho sobre o círculo do corpo é o princípio de muitas doenças. O silêncio é, por isso, uma necessidade secundária que tem um «caráter diretivo». Se por um lado a necessidade determina o objeto, ele determina também o movimento para si. O movimento é sempre essa deslocação para o objeto, para o silêncio.

Carlos Alberto Augusto

Por uma teoria do silêncio

Silêncio é um destes conceitos que entraram no vocabulário corrente de forma intempestiva, certamente pouco refletida, ao qual se atribui significados, por vezes, dificilmente compreensíveis. Por outro lado, som e silêncio foram, a pouco e pouco, transformados em realidades opostas, tendo-lhes sido igualmente atribuídas qualidades, para além das características físicas que possuem, que camuflam o seu verdadeiro papel. O órgão auditivo dos mamíferos serve um propósito muito concreto: detetar as vibrações de moléculas de um fluído (geralmente o ar), produzidas dentro de determinados limites e em determinadas condições, e transmitir o resultado dessa operação ao cérebro, onde o processo ganha uma outra dimensão. O órgão auditivo é o produto de um processo evolutivo longo e complexo. Este órgão permite extrair informação única sobre o ambiente, que teve e tem um papel crucial na sobrevivência das espécies. No caso do Homo Sapiens Sapiens, este processo está intimamente ligado a um outro, paralelo, que conduziu ao desenvolvimento da linguagem. O passo seguinte ao da transdução mecânico-elétrica efetuada pelo ouvido, é o da tomada de consciência pelos diversos centros do cérebro da natureza desses sinais, a partir do processo físico, o que deu às espécies que possuem esta capacidade, uma clara vantagem filogenética. O órgão auditivo surgiu para extrair informação útil do ambiente. Para detetar som, não a sua ausência. O ouvido não evoluiu para registar não-som. Som e silêncio não são realidades opostas, mas elementos de uma mesma cadeia de comunicação. À volta desta ideia de não-som e da evolução de uma noção de silêncio como realidade absoluta, cresceu, ao longo da história, um número de interpretações mais ou menos equivocadas, que promovem ou conduzem a erros de análise, alimentam apreciações estéreis e têm contribuído para um ambiente sonoro doente, um primeiro sinal, geralmente ignorado, de uma crise ambiental mais profunda. Tudo isto conduz à necessidade de clarificação do tema. A uma teoria do silêncio.

Paulo Borges

Experienciar o silêncio

O silêncio só tardiamente adquiriu o sentido de “ausência de som”, pois a etimologia, do latino “silere” e do proto indo-europeu “seyl-“, indica a quietude e a imobilidade. Nesta comunicação exploram-se os vários sentidos da experiência do silêncio, desde o silêncio primordial inerente à quietude do omni-abrangente espaço aberto onde surgem, se transformam e dissipam todas as experiências da consciência e do mundo, até ao silêncio mental, verbal, corporal e inter-corporal que permite o florescimento do pensamento, da palavra e da vida. Visa-se não apenas discursar sobre o silêncio, e assim re-velá-lo, mas também convidar a senti-lo. Na verdade há um silêncio sensível, saturado de energia, no qual estamos constantemente mergulhados e que por isso desatendemos. Reconhecê-lo e nele repousar como o comum fundo sem fundo de si e do mundo, liberta de todos os aparentes limites da experiência. Repousar no silêncio tanto liberta da palavra quanto dá voz ao inédito e ao silenciado, regenerando a vida na pujança de todos os possíveis. 

Gonçalo M. Tavares

O que está debaixo do que se escreve? (a partir do livro "Atlas do corpo e da Imaginação" de Gonçalo M. Tavares e os Espacialistas).

Toda a escrita é um código, passa uma mensagem secreta, escondida. Passa uma mensagem oposta ou pelo menos bem diferente da mensagem aparente. Escrita para comunicar com o amigo, não com o inimigo. Como um código. O inimigo não percebe, só lê o que está visível e explícito. Não entende o código, não sabe a tradução. O que eu não entendo é silêncio para mim. O discurso da sombra das palavras, do negativo das palavras. A sombra que as palavras fazem no chão ou na folha. Pensar no espaço vazio entre palavras, duas palavras não são duas palavras, são duas palavras e o espaço vazio entre elas. Três coisas.

Raquel Castro

O silêncio como uma vírgula

A palavra silêncio remete para a ideia de ausência de som, uma impossibilidade física a partir do momento em que existe vida. O silêncio está para lá de tudo o que pode ser dito, no limite do entendimento humano e é um conceito sem realização. Não há, naturalmente, nenhum verdadeiro silêncio, uma vez que quando os níveis de som externos diminuem muito, nós ouvimos os nossos próprios corpos em maior detalhe.
Na nossa cultura, muitas vezes o silêncio é concebido por sinestesia: o silêncio é de ouro, diz o ditado, como se o silêncio não fosse também a antecipação do pensamento que emerge, da voz que lhe sucede.
Há uma relevância que se pode dizer ética no silêncio, mas tal só poderá ser entendido se o analisarmos a partir de diferentes lentes numa aproximação interdisciplinar. Som e silêncio são também práticas sociais. Som é movimento, silêncio é imobilidade. 
No silêncio o ouvinte torna-se audível para si próprio. O silêncio é um convite à escuta.
É o princípio da comunicação. Não é a ausência, é o princípio de tudo.

Inês Gil

Fotogenia do Silêncio

O silêncio visual sempre existiu no cinema. Ele estende-se para além da imagem, do som e do movimento para exprimir um mundo interior ao objeto fílmico. Iremos ver como é possível falar de “fotogenia do silêncio”, tanto em obras contemporâneas, como no período do cinema mudo, a partir das propostas teóricas de Jean Epstein e Louis Delluc.

JOANA GAMA

Música quase silêncio

Por mais que, à partida, possa parecer um paradoxo, a ideia de silêncio está presente na obra de vários compositores. O silêncio não como ausência de som mas como veículo para uma possibilidade diferente consoante o autor.  No meu percurso enquanto pianista, fui-me aproximando do repertório que aborda o conceito de música quase silêncio e é sobre esse caminho que falarei nesta conferência ancorada em cinco obras de cinco compositores que me têm acompanhado nos últimos anos: Erik Satie, John Cage, Federico Mompou, Morton Feldman e Amílcar Vasques-Dias.

Lucinda Correia

As Formas do Silêncio

Entre a arquitetura e o silêncio pode estabelecer-se uma relação que é sempre mediada pela experiência do mundo. De facto, de um modo geral, a mundanidade serve-se do caráter silencioso da arquitetura para qualificar o espaço humano. É que, mesmo sem o saber, a arquitetura pratica um “jogo acústico” entre que é humano e o que o não é. Não poderemos afinal considerar que, na contemporaneidade, o silêncio foi expulso de quase todos os lugares, obrigando o nosso ser a refugiar-se nos “enclaves de silêncio” circunscritos pela arte?

Alexandre Pieroni Calado

“My gracious silence, hail!”

Em A Tragédia de Coriolano encontramos uma das únicas três indicações cénicas que determinam um silêncio em palco deixadas por William Shakespeare. Mas não apenas por isso, nesta ruidosa peça, com triunfos e cortejos, tumultos e chusmas, discursos, gritos e vozes duras afastadas do veludo da poesia, o silêncio joga um papel crucial. Voltar ao que nela se diz e está inscrito pode ser um ponto de partida para nos acercarmos da contemporânea desigualdade na distribuição e no uso do silêncio.

Vânia Rovisco

O silêncio como acontecimento

Na prática da performance, o silêncio pode ser entendido como um lugar de abertura a algo (des)conhecido, que se interpõe no percurso de alguém. A mente pousa, o tempo estende-se e, quase como quem sofreu um acidente automóvel, o tempo dilata e os detalhes são claramente vistos. Quão mais denso o silêncio, mais escrutínio nos detalhes. O silêncio adquire densidade e atravessa um túnel em velocidade quando se regressa ao plano sonoro, como nos filmes ou na banda desenhada. Um pouco como a luz que não teria nada onde refletir se não existissem objetos. É o silêncio que permite escutar o funcionamento de um órgão. Aquele silêncio que deixa experienciar a densidade de uma situação, o prolongamento de um encontro, o silêncio que alastra o tempo quando se tem um acidente. O silêncio que nos move em coletivo enquanto se assiste a uma performance. A espessura desse silêncio que, apesar da perceção propagada, acontece em tempo efémero. Na conferência, Vânia Rovisco irá refletir acerca do papel do momento de silêncio enquanto acontecimento e, assim, como uma ferramenta na Performance e no corpo em prática.

Co-funded by the Creative Europe Programme of the European Union, following ACT - Art, Climate, Transition project

ACT Art Climate Transition

ARTISTIC COORDINATION

Marta Rema

ORGANIZATION

eFABULA

 

Project funded by Portuguese Republic — Culture / Direção-Geral das Artes

Co-funded by the Creative Europe Programme of the European Union, following ACT - Art, Climate, Transition project

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