Em homenagem à vida e obra de Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022), falecida a 8 de junho, a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a obra The Granddaughter (1998). A qualidade inquestionável do trabalho artístico que a artista desenvolveu ao longo de seis décadas ficou atestada nas inúmeras exposições individuais e coletivas nos principais museus do mundo, tais como: Tate Britain, Londres; Museo Picasso, Málaga; Tate Liverpool; Museo Nacional Centro de Arte de Reina Sofía, Madrid; Museu of Women in the Arts, Washington; Musée de l’Orangerie, Paris; Museo de Arte Contemporánea, Monterrey, México; Pinacoteca de São Paulo; The Metropolitan Museum of Art e MoMA, Nova Iorque; The Art Institute of Chicago; e Yale Center for British Art, New Haven.

Entre 1952 e 1956 estudou na Slade School of Fine Art em Londres, onde contactou com a pintura inglesa e conheceu o seu futuro marido, o pintor Victor Willing (1928-1988). Desde cedo que a sua pintura denota um desejo por narrativas delirantes e perversas. Se nos primeiros anos, a colagem de grandes massas de cor, as formas anatómicas deformadas e a grande expressividade no traço e nas pinceladas eram as caraterísticas mais evidentes das suas obras, nos anos após a década de 80 o rigor anatómico dos corpos humanos, os espaços tridimensionalmente definidos e a expressividade da figura humana torna-se mais realista e intensa. É nesta fase que se pode incluir a pintura The Granddaughter (1998). Uma figura feminina mais velha, a avó, sentada numa poltrona está centrada no quadro com um carrinho de compras ao lado. Enquanto outra figura feminina repousa também, mas numa cadeira, em segundo plano com uma mala de mão a seu lado. A emoção espelhada nos olhares ausentes das duas mulheres e a densidade melancólica dos seus rostos, pressupõe uma pesada história desconhecida. É nestas possíveis histórias, algumas de referências na literatura internacional, que a obra da artista se revelou mais pertinente e sarcástica, muitas vezes abordando temas sociais e políticos do universo feminino, como o aborto, o poder, a convenção, o pudor e a família. Mais recentemente o seu desenho tornou-se mais livre e liberto de qualquer convenção, alcançando, deste modo, uma liberdade que irá ecoar pela eternidade.

Em 2004, foi agraciada com a prestigiante Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada do Presidente de Portugal. Em 2010, recebeu o título de Dama do Império Britânico pela sua contribuição nas artes, por honra do aniversário da Rainha Isabel II. Em 2016 recebeu a Medalha de Honra da cidade de Lisboa. Em 2019 recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Governo Português e o Lifetime Achievement Award from Harper’s Bazaar. 

Hugo Dinis