No âmbito do empréstimo da obra Gravura (1970) de Maria Beatriz destaca-se esta gravura pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que integra a exposição Pré-pós declinações visuais do 25 Abril, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, no Museu de Serralves, no Porto, de 23 de abril a 27 de outubro de 2024.
A obra de Maria Beatriz distingue-se pelo “sentido poético da linguagem plástica, as preocupações sociais e humanas, e os modos de fazer, o recorte e a colagem, compondo e recompondo elementos.” (Vítor Belanciano). A artista cria narrativas irónicas e mordazes através da relação entre as personagens que revelam um imaginário infantil e surrealista. “São fragmentos, desarticulados, pedaços de história, como se de colagens se tratasse, que a autora une habilmente criando uma narrativa difusa como forma de uma denúncia violenta e crítica social e política.” (Inês Gomes). Estas composições vão tecendo considerações sobre aspetos sociais e as vivências pessoais da artista: “A crueldade senta-se à mesa familiar.” (Júlio Pomar). A obra Gravura coloca lada-a-lado duas figuras disformes e caricaturadas que dialogam estranhamente e a inscrição “ADULTOS / 18 ANOS”. Esta legenda recentra a imagem em algo erótico e disruptivo, deixando para trás uma visão inocente e lúdica que poderia ser vista primeiramente. A sua obra “ostenta uma forte capacidade de relacionar uma dimensão onírica com as imagens do quotidiano” (Celso Martins); “conjugando sempre a necessidade de um comentário crítico sobre o mundo e a afirmação auto-biográfica, o olhar revoltado e a libertação pessoal.” (Alexandre Pomar)
Nascida em 1940, em Lisboa, Maria Beatriz estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, mas foi na Cooperativa de Gravura (SCGP) que encontrou o seu percurso artístico. Em 1966, ruma a Paris para ingressar no Atelier 17, com bolsa da Gulbenkian e aprofundar os seus conhecimentos técnicos em gravura. Em 1970 instala-se definitivamente nos Países Baixos, terminando o curso de Pintura e Artes Gráficas na Academia de Belas-Artes de Roterdão, em 1973, com bolsas do governo holandês. Faleceu em 2020, aos 80 anos, em Amesterdão, com um percurso relativamente discreto em território nacional, mas deixando um legado de gravura, desenho e pintura inestimável para a prosperidade: “A força do meu trabalho está na força de poder dizer realmente tudo, no achar que posso assumir o risco.” (Maria Beatriz)
Hugo Dinis
Papel (38 x 56,5 cm) / Superfície impressa (22,5 x 29 cm)
Ed. 1/150 + XX P.A. (2.a série)
Inv. 626128