No âmbito do empréstimo da instalação Linha #1 (2002) de Luisa Cunha (Lisboa, Portugal, 1949) destaca-se esta obra pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A instalação integra a exposição Hello! Are You There?, com curadoria de Isabel Carlos, no maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, entre 19 de maio e 28 de agosto de 2023. Esta primeira retrospetiva sobre a obra da artista, que resulta da atribuição à artista do Grande Prémio Fundação EDP Arte (2021), também apresenta as obras Drop the bomb! (1994) e 3, 2, 1 (1998) pertencentes à Coleção da CGD.
O corpo de trabalho que a artista Luisa Cunha tem desenvolvido nas últimas 3 décadas (1992-2022) revela-se em descrições do próprio processo, tanto nas obras sonoras, como nas obras escritas. A palavra, ou as palavras e frases, surgem com o seu significado, muitas vezes, literal. A instalação Linha #1 veicula o desenho da frase que representa: “os saltos dos meus sapatos têm 5 cm de altura e estando de pé esta é a linha ao longo da qual escrevo com menor esforço escrever ao longo desta linha é escrever ao longo desta linha tudo o que escrevesse acima ou abaixo desta linha não era escrever nesta linha”. Na presença deste desenho, que ocupa as paredes da sala de exposição, o tempo performativo da sua realização torna-se presente, onde “tudo o que importa para a obra é que nós, espectadores (cada um de nós), estamos aqui. É esta a leveza da sua poética” (Delfim Sardo, Abrir a Caixa, 2009). A instalação entende-se “como uma espécie de escultura temporal, não só porque denuncia a duração da sua execução, mas porque implica sempre, por parte do espectador, a experiência do tempo vivido resultante do seu trajeto no espaço (obrigatório para a leitura).” (Ricardo Nicolau, Directo ao assunto, 2007) A importância dada ao espetador na sua relação com a obra denota, não apenas uma preocupação com o seu entendimento mas, sobretudo, com o seu corpo e com o seu olhar. “A remissão para o seu corpo como medida do desenho, a par da referência directa ao acto performativo do seu corpo a fazer o desenho, provoca um interessante efeito de ressonância e espelhamento no acto de recepção estética, solicitando no espectador a consciência do seu próprio corpo em movimento e da sua experiência de percepção/reflexão à medida que esta se desenrola no tempo e no espaço.” (Miguel Wandschneider, O “Eu” Reflexivo, 2007). Deste modo, o “desenho é o vestígio de uma presença do corpo no espaço, memória da acção realizada. E essa experiência do espaço transforma os limites, abole fronteiras e metamorfoseia o lugar” (Nuno Crespo, As palavras não me chegam, 2007). e, ao mesmo tempo, “requer uma relação de intimidade – troca silenciosa – com a sua inscrição e com o espaço da galeria.” (Sara Antónia Matos, Zona Letal, Espaço Vital, 2011).
Apesar de avessa a currículos e notas biográficas, a artista escreve na obra CV (2018) somente os anos em que realizou exposições individuais e coletivas (2018 2018... 1994 1993 1993). Fazemos apenas nota da recente atribuição do Prémio AICA/MC/Millennium bcp 2022 de Artes Visuais.
Hugo Dinis