No âmbito da divulgação da exposição de Fernando Brito, inserida nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, patente na Culturgest – Lisboa, de 2 a 28 de abril, destaca-se a obra Mapa orográfico do território português, à escala 1:625000, sujeito às condições luminosas do dia 25 de Abril de 1974, às 08h00 (1999-2009), pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos. A obra foi adquirida ao artista em 2022, no âmbito das aquisições realizadas a artistas de média carreira ainda não representados na Coleção.
Exposta pela primeira vez em 2009 na exposição “Ich bin ein Baixinher” no Chiado 8 – Arte Contemporânea, em Lisboa, com curadoria de Bruno Marchand, a instalação tinha sido pensada e escrita em 1999 num pequeno caderno de apontamentos que faz parte do processo de trabalho que o artista tem vindo a desenvolver. Nesse início, a obra era apenas a ideia descritiva que a frase do título indicava. Posteriormente a obra ganhou a sua materialidade. Através de um molde em látex de um mapa topográfico à escala 1:625000 do território nacional – continente e ilhas –, que se encontrava em todas as escolas primárias no Estado Novo, o artista fez incidir um foco de luz que simula o amanhecer do dia da Revolução do 25 de Abril de 1974. Nesta narrativa histórica e precisa, o artista congela o momento em que o país via a luz da liberdade e a imensidade das suas possibilidades, “numa paródia assumidamente crítica em torno de processos de aproximação e afastamento relativamente a algumas imagens características da vanguarda histórica.” (Cristina Campos).
Artista errático e diletante, “escapista e esquivo” (Ivo Martins), Fernando Brito, nascido na Pampilhosa da Serra em 1967, estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. A sua obra pictórica caraterizava-se então por uma visão irónica sobre a cultura Pop e gosto pelo Expressionismo Abstrato. Nos anos 80 e 90 foi professor de Educação Visual em Santarém e, posteriormente, professor de Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Apesar do seu percurso artístico nas margens, a sua presença no meio artístico português é notada: no Grupo Homeostético, formado em 1983 com Ivo, Manuel João Vieira, Pedro Portugal, Pedro Proença e Xana; e na Geração de 90, um grupo informal que integrava Carlos Vidal, João Louro, Rui Serra, Paulo Mendes, João Tabarra, Miguel Palma e João Paulo Feliciano. Recentemente o seu trabalho tem passado por esculturas e instalações que indagam sobre processos modernistas e históricos. O seu trabalho tem sido apresentado em raros momentos, dos quais se destaca a exposição em 2010 “Der Geist unserer Zei”, com curadoria de Pedro Cabral Santo, no Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães.
Hugo Dinis
1 x 1012 x 534 cm
Inv. 683036