No âmbito da divulgação da exposição O pequeno mundo, com curadoria de Sérgio Mah, destaca-se a pintura Mensagem Inequívoca I (1977) do artista Jorge Pinheiro (Coimbra, 1931). A exposição esteve patente no MACNA - Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, entre 1 de novembro de 2020 a 21 de fevereiro de 2021, e irá ser re-apresentada na Culturgest em Lisboa, a partir de outubro de 2021.
Em 1963, o artista termina os estudos em Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, com nota final de 20 valores. Ingressando de seguida como docente até 1976, ano em que pede transferência para a Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde leciona até 1996. Forma o grupo Os Quatro Vintes, conjuntamente com Ângelo de Sousa, Armando Alves e José Rodrigues, que se mantêm ativos até 1972. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1966, tendo viajado por vários países europeus, e em 1979/80 na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, estudando Semiótica das Artes Visuais. Em 2002, o CAM-FCG organizou a exposição retrospetiva Jorge Pinheiro – 1961-2001. Em 2017, a Fundação Carmona e Costa e o Museu de Serralves organizaram a exposição intitulada Jorge Pinheiro - D’aprês Fibonacci e as coisas lá fora, com curadoria de Pedro Cabrita Reis, integrando a pintura Mensagem Inequívoca I. Em ambas as exposições foram publicados catálogos com entrevistas com o artista.
Inicialmente a sua pintura é marcada pela figuração, que irá retomar posteriormente no final dos anos 1970. Enquanto na década de 70, após a sua estadia em Paris, a sua pintura segue pelo abstracionismo, nomeadamente, pela Pop Art, Op Art, Arte Cinética e Minimalismo. Nesta fase a sua pintura é dominada por um gosto por formas dinâmicas e geometrizantes, definidas pela vivacidade e predominância de manchas de cores uniformes e densas.
A pintura Mensagem Inequívoca I (1977) insere-se nestas experiências semióticas, sobre o significado dos símbolos. Através de uma linguagem gráfica caracterizada por formas simples – pontos, linhas e arcos – a pintura parece escrever uma frase dinâmica e lúdica. No catálogo da exposição O pequeno mundo, o curador Sérgio Mah refere: «Sob um fundo monocromático verde seco, foram inscritos uma série de elementos gráficos distribuídos por cinco sequências horizontais. Por um breve momento podemos supor que se trata de uma pauta musical. Porém, o que nos resta é admitir que estamos perante uma linguagem estritamente pictórica que não ambiciona a produção de significados precisos e transparentes. É uma “mensagem inequívoca” somente se a admitirmos no quadro de uma compreensibilidade expansiva, transitiva e sensível.»
Através da incomunicabilidade da linguagem abstracta, a pintura de Jorge Pinheiro revela uma atenção pertinente à compressão dos seus próprios elementos pictóricos e dos seus significados conceptuais e emocionais. Ao se entender e sentir a pintura nos seus aspetos formais é possível vislumbrar diversas possibilidades e infinitas invenções pictóricas que se reavivam no olhar de cada espectador.
Hugo Dinis
120,2 x 190 cm
Inv. 239009