No âmbito do empréstimo da fotografia Monsaraz (1996) de Paulo Nozolino destaca-se esta obra pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que integra a exposição coletiva Thalassa! Thalassa! O mar e o mediterrâneo na obra de Sophia de Mello Breyner Andersen, com curadoria de Isabel Inácio e Santiago Macias no Centro de Artes de Sines, de 13 de julho a 15 de outubro de 2024.
A obra fotográfica de Nozolino não trata de reportagens nem documentários sobre um local, uma figura humana ou uma viagem. São, antes, perspetivas ativas de uma visão acutilante sobre o mundo que o rodeia. “As fotografias de Nozolino mostram que para reconhecer a realidade em que vivemos é necessário torná-la problemática.” (Sérgio Mah). Ao usar uma máquina fotográfica analógica Leica, e rolos de 35 mm a preto e branco, Nozolino desacelera o fugaz mundo da tecnologia e a violência do progresso, focando-se num rigoroso tempo moroso e contemplativo, que demonstra as suas preocupações políticas, critica a evolução da sociedade e está “à procura de justiça num mundo que não é justo.” (Paulo Nozolino). As fotografias muito escuras e contrastadas revelam uma penumbra significante. “É na penumbra que as formas se fazem e desfazem.” (Jorge Calado). Na série de fotografias sobre Monsaraz “a vila não existe, é uma lonjura, estranho muro negro e branco, sinalizado pela placa e pelo vulto humano, ambos de costas para nós, numa dramaticidade de filme expressionista.” (Raquel Henriques da Silva). Estas imagens que congelam um tempo em suspenso contra um mundo em constantes alterações, revelam uma das premissas essenciais da obra de Nozolino: o ruído do silêncio ou o silêncio do ruído. “O meu trabalho é mostrar no silêncio das palavras aquilo que fiz.” (Paulo Nozolino). Através de uma imagem melancólica, ao centrar-se num sinal e num vulto humano atravessados por um muro branco, o olhar do fotógrafo questiona o seu lugar e o seu propósito. Este questionar reduz o mundo ruidoso em surdina, mostrando as suas histórias, decadências, vivências, ruínas, destruições e cicatrizes. “É a história do seu olhar que encontra as coisas.” (Rui Nunes). “O olhar de Nozolino quer ir até um ponto onde nunca foi – muito para trás. A viagem promete ser longa e demorada e o fotógrafo diz que só agora a começou verdadeiramente.” (Sérgio B. Gomes).
Nascido em 1955, em Lisboa, estuda na London College of Printing, na década de 70. Vive em Londres até ao final dos anos 80, quando se muda para Paris, viajando com frequência pelo mundo árabe e Europa, sobretudo após a queda do muro de Berlim. Em 2002 realiza a exposição antológica Nada na Maison Européenne de la Photographie, em Paris. Nesse ano regressa a Portugal. Em 2005, o Museu Serralves organiza Far Cry, a primeira exposição retrospectiva do artista que é também a primeira exposição retrospectiva de um fotógrafo contemporâneo português.
Hugo Dinis