No âmbito do empréstimo da instalação Da natureza das coisas tudo acaba (2014) de Carlos Nogueira (Moçambique, 1947) destaca-se esta obra pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A obra integra a exposição Carlos Nogueira. água. e a casa é o mundo, com curadoria de Catarina Rosendo, no Palácio dos Anjos, em Algés, Portugal, entre 21 de setembro e 29 de dezembro de 2023.

A formação académica de Carlos Nogueira dividiu-se entre Escultura, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, e Pintura, na sua congénere em Lisboa. Porventura, esta dupla formação inquieta constantemente a produção artística que tem desenvolvido desde os anos 70, estendendo-se em obras instalativas, arquitetónicas e performativas, que são ativadas pela perceção do observador. Segundo Miguel Wandschneider, na apresentação da exposição Da natureza das coisas tudo acaba, na Culturgest – Porto, em 2014: “Subjacente ao seu trabalho esteve sempre a busca de uma totalidade em que o sensível e o inteligível, o visível e o invisível, a efemeridade e a permanência, o sagrado (a transcendência) e o profano (o comum e o quotidiano) se conjugam e interrelacionam.” Foi nesta exposição que se apresentou a obra com o mesmo título, trata-se de “uma obra reflexiva que recobre e sintetiza o vocabulário, a gramática e a poética do seu trabalho de quarenta anos, e que se materializa como um repositório de objetos (materiais e formas) que foram habitando a casa ou o ateliê do artista.” Numa estante modular com 44 prateleiras, Carlos Nogueira dispõe 142 de objetos – “um conjunto de elementos que fazem parte do meu vocabulário de formas”, segundo o próprio artista – de diversas proveniências, funções, materiais e formas. Parece tratar-se de uma espécie de alfabeto ou de um catálogo de opções que, com diferentes significados, podem ser conjugados para formar frases, ideias ou simbologias. Esta miríade de possibilidades, ao promover um entendimento plural sobre a arte e sobre o quotidiano parece equiparar estes mundos, como se se tornassem apenas uma e a mesma coisa. Os objetos são apresentados na estante de metal como se estivessem nas Reservas de uma coleção, prontos a fazer parte de uma museografia. Como se a pertinência da sua catalogação e preservação os elevasse a uma categoria arquivística, que importa preservar pelo seu próprio valor, por serem apenas o que são. Esta dimensão literal parece contrariar as suas possíveis leituras, mas é porque é no confronto, diálogo ou comparação, entre os diversos objetos com que o observador se depara, que se ativa o seu entendimento, as suas histórias e o seu futuro.

Carlos Nogueira foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1982-83), da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (1989) e da Secretaria de Estado da Cultura (1989-90).

Hugo Dinis

CARLOS NOGUEIRA
Da natureza das coisas tudo acaba
1947
Conjunto de 142 objetos em materiais e técnicas diversos e estante modular em aço inoxidável 

240 x 990 x 40 cm

Inv. 666689
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