Em homenagem à vida e obra do pintor, recentemente falecido, Nikias Skapinakis (1931-2020, Lisboa), a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a obra Paisagem do Vale dos Reis XLVI (Apologia da Natureza), de 1983. Adquirida diretamente ao artista em janeiro de 1984, a pintura foi apresentada pela primeira vez na exposição intitulada Parafiguração, na Galeria 111, no mesmo ano, e esteve presente nas três exposições antológicas organizadas em torno do pintor — em 1985 no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2000 no Museu de Serralves e em 2012 no Museu Berardo —, presenças que atestam a sua importância no conjunto da sua obra.
Trata-se de uma obra da série de cerca de 85 pinturas e desenhos sobre o Vale dos Reis que o artista desenvolveu ao longo dos anos 80. Tendo sido iniciada na viagem que realizou ao Egipto em 1979, a série inaugura um segundo momento do conceito Parafiguração que o artista tinha desenvolvido e se dedicado na década anterior. Sucintamente, trata-se de um conceito que dando tónica ao processo de construção pictórica — nomeadamente, em recortes de cores, colagem de formas informais e fragmentos visuais — renega o ponto de partida, o referente e o resultado final. As pinturas de Skapinakis tornam-se, assim, composições abstratizantes que questionam o género de paisagem “não por mimetismo mas pelo enunciado de uma atitude.” (SILVA, p.32). Neste sentido, “assistimos a uma nova visão espacial agenciada, convenientemente, após a grande coração de um “espaço ambíguo (…)” (FRANÇA, p.62), e “(…) a partir de então, a sua pintura assume uma fluência, um contínuo pictórico, devedor de múltiplas referências das artes e da realidade.” (RODRIGUES, p.25).
A pintura Paisagem do Vale dos Reis XVI (Apologia da Natureza) é um “exercício maneirista de manifesto impacto visual” (PERNES, p.24). A persistência e a resiliência da pintura de Skapinakis resgata em si uma dimensão de investigação profunda sobre a realidade que representa. Na “transfiguração da decoração dos túmulos dos faraós egípcios de paisagem interna para paisagem externa, ilimitada” (LAPA, p.29), encontramos uma relação abstracta que se relaciona com a problematização da pintura em detrimento do realidade representada. Assim se “joga na tentativa de encontrar um sentido de estruturação do plano do quadro que não é já coincidente com a organização natural da Natureza que o pintor refere como citação.” (ALMEIDA, 1990, p.16). “Embora se trate de paisagens que não existem e o sentido abstracto que lhes preside seja assaz evidente no tratamento da matéria e na definição do espaço, elas estão penetradas, tanto quanto me apercebo, de um sentido do real que as impede de se comportarem como pinturas abstractas.” (SKAPINAKIS, p.24).
Hugo Dinis
ALMEIDA, Bernardo Pinto de, “Nikias Skapinakis: Visitação ao Vale dos Reis com escala nas Paisagens Internas”, in Colóquio-Artes, n.º86, 2.ª Série, 32.º Ano, Fundação Calouste Gulbenkian, Setembro 1990, pp.14-21.
LAPA, Pedro, Linguagem e Experiência - Obras da Coleção da CGD, Lisboa, Culturgest, 2010.
PERNES, Fernando Pernes, FERNANDES, João, FRANÇA, José-Augusto, Nikias Skapinakis. Prospetiva 1966-2000, Porto, Museu de Serralves, 2000.
RODRIGUES, António, Nikias Skapinakis: A pintura Mirabolante, Lisboa, Editorial Caminho, 2005.
SKAPINAKIS, Nikias, Nikias Skapinakis, IN-CM, 1987.
SILVA, Raquel Henriques da, 50 Obras de la Colección de Arte Contemporáneo Caixa Geral de Depósitos, Lisboa, Banco Simeón, Grupo Caixa Geral de Depósitos, 2006.
160 x 180 cm
Inv.213272