No âmbito do empréstimo da obra Pantelmina 1 (2001) de Joana Vasconcelos (Paris, França, 1971), presente na exposição individual Le Jardin d'Éden (curadoria de Siegrid Demyttenaere; Maison Folie Wazemmes, Lille, França; 14 de maio a 2 de outubro de 2022), no âmbito da 6.ª edição temática de lille3000 – sob o tema Utopia –, a Coleção da Caixa Geral de Depósitos dá destaque a uma das suas obras mais relevantes.
A artista inicia a sua proeminente carreira artística nos anos 90. Através de uma linguagem Pop, tanto na utilização de uma panóplia de materiais do quotidiano – espanadores, plásticos, meias, escovas, cadeiras – como na estratégia lúdica e abordagem artesanal, a artista questiona a relação conflituosa entre a arte popular e os trabalhos manuais com a erudita arte contemporânea e o trabalho industrial. Este conflito é ativado com a alteração da função dos objetos e dos conceitos utilizados, num jogo que se desenrola na perceção e na experiência vivida dos espectadores.
A obra Pantelmina 1 recorre ao trabalho manual tradicionalmente associado ao feminino (malha de lã), para produzir um gigante brinquedo que se prende à parede e indagar o papel da mulher na sociedade socorrendo-se de três premissas: maternidade, sexualidade e trabalho. A maternidade parece advir das diferentes cores e formas que compõem o objeto. Se, por um lado, as cores parecem ser referência à masculinidade do Minimalismo e à Arte Abstrata – face à ausência de artistas mulheres –, ao mesmo tempo, ecoam um universo infantil e pedagógico. A sexualidade parece residir nas formas lânguidas do volume da obra, tornando-a perversamente erótica. E, por fim, na economia o trabalho feminino é visto como um trabalho manual e pouco especializado. O trabalho feminino pode ser visto com uma dimensão doméstica e privada, ao contrário do trabalho masculino que é visto como público. A obra de Joana Vasconcelos discute esta dicotomia: do mesmo modo que se apega à minuciosidade da perícia da malha de lã, às cores e formas infantis e às formas arredondadas femininas; também se apega à forma fálica masculina – mesmo que horizontal –, às cores e formas abstratas e ao tamanho monumental da peça. Neste sentido, ambas as dimensões – feminina e masculina – questionam-se nos dois sentidos denotando, deste modo, a impermeabilidade dos conceitos de género histórica e socialmente pré-concebidos.
A artista tem exposto em diversas instituições nacionais e internacionais, nas quais tem mostrado a obra Pantelmina 1, tais como: Fundação EDP (2001); Passage du Désir, BETC RSCG, Paris (2005); Centro Cultural de Belém (2010); e IVAM-Instituto Valenciano de Arte Moderno (2019).
Hugo Dinis
70 x 1000 x 70 cm
Inv. 536070