No âmbito do empréstimo da fotografia Paradoxo de contexto. Porteiro do cabaré “Moulin Rouge”, Beira (1965), de Ricardo Rangel (Lourenço Marques – atual Maputo, Moçambique, 1924 – 2009), destaca-se esta obra pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos e que agora integra a exposição Moçambi-Cá – Artistas Plásticos de Moçambique. Com curadoria de Roberto Chichorro, Ntaluma, Rui A. Pereira, Ricardo Barbosa Vicente e Titos Pelembe, esta mostra está patente na galeria de exposições da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, em Lisboa, entre 3 de fevereiro a 15 de maio 2023.
Ricardo Rangel nasceu em 1924, em Lourenço Marques, de ascendência africana e chinesa e filho de um empresário grego. Nos anos 40 começa a sua atividade profissional como impressor no estúdio fotográfico de Otilio Vasconcelos. Em 1952, torna-se o primeiro homem não-branco a ser contratado pelo jornal moçambicano Notícias da Tarde. Em 1956 ingressa no principal jornal de Moçambique: o Notícias. Desde então destacou-se como um dos principais fotojornalistas do país, pioneiro na procura de uma identidade nacional que captasse uma realidade complexa, do ponto de vista pessoal, como moçambicano. Em 1984 cria o Centro de Formação Fotográfica, atualmente Centro de Documentação e Formação Fotográfica, que se torna uma importante escola de fotografia e um arquivo imprescindível para a história de Moçambique.
No conjunto da sua obra é possível visitar a história contemporâneo do seu país natal, desde a ocupação colonial nos anos 50, a guerra e subsequente independência de Portugal em 1975, a guerra civil, o acordo de paz em 1992 e o início de um futuro esperançoso até à sua morte em 2009. Ao longo de mais de 6 décadas, Ricardo Rangel foca a sua objetiva na classe operária e nos oprimidos, enquanto empoderamento de um espírito nacional contra o opressor português e branco. Neste sentido, a imagem Paradoxo de contexto. Porteiro no Cabaré, “Moulin Rouge”, Beira (1965) revela, por um lado, um olhar crítico para uma sociedade colonial desigual e, por outro lado, uma vitalidade de subversão dos cânones ocidentais. Segundo um dos curadores da exposição, Titos Pelembe, “falar da fotografia em Moçambique implica igualmente falar de um instrumento que tem contribuído significativamente nas lutas sociais, tal como foi no processo da luta armada que culminou no processo da conquista da independência nacional.”
Em 1998, foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Entre 1998 a 2003, enquanto membro do grupo de cidadãos Juntos pela Cidade, Ricardo Rangel foi deputado da Assembleia Municipal de Maputo, como forma de contribuir para o desenvolvimento da sua cidade natal. Em 2008 recebeu o doutoramento honorário em Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, pela sua contribuição para a cultura moçambicana.
Hugo Dinis
40,5 x 30 cm
Inv. 570878