No âmbito do empréstimo da obra Registo de uma intervenção na natureza (1973) de Alberto Carneiro destaca-se esta sequência de fotografias pertencentes à Coleção da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que integra a exposição coletiva Cravos e Veludo – Arte e Revolução em Portugal e na Checoslováquia (1968-1974-1989), com curadoria de Adelaide Ginga e Sandra Baborovska no MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, de 19 de julho a 27 de outubro de 2024.

Nascido em 1937, numa aldeia no concelho da Trofa, Alberto Carneiro, cedo aprendeu o ofício de santeiro nas oficinas de arte sacra da sua terra natal, São Mamede de Coronado, onde trabalhou de 1947 a 1958. Estudou na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, no Porto, e na Escola Artística António Arroio, em Lisboa. Entre 1961 e 1967 estudou escultura na Escola de Belas-Artes do Porto e, entre 1968 e 1970, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, estuda na Saint Martin’s School of Art em Londres. É na cidade inglesa que contacta com a arte de vanguarda, nomeadamente a Land Art e a Arte Conceptual. Em complemento à sua atividade artística, estudou interessadamente Psicologia Profunda, Zen, Tantrismo e Tauismo. Será no compromisso entre o seu percurso inicial com o trabalho em madeira e os materiais naturais com o seu interesse intelectual pela filosofia oriental, que a sua obra atinge uma profunda relação entre o corpo, o espírito, a natureza, a experiência e a arte. O trabalho de Carneiro revela-se uma procura “pelo corpo ausente, por aquele corpo que, um dia (se algum dia) poderá completar o próximo.” (Delfim Sardo)

Foi em Londres, no dia 12 de dezembro de 1968, que Carneiro teve uma “epifania” (Anabela Mota Ribeiro) e ganhou “a consciência de que não havia separação entre a vida, o meu quotidiano, a essência dele, e o meu trabalho. Tomo a decisão de ir à minha experiência de vida, fazendo uma prospecção dentro do meu mundo infantil e da minha relação com a natureza.” (A. Carneiro). Regressa a Portugal em 1972, e no ano seguinte realiza a obra Registo de uma intervenção na natureza. Trata-se de uma sequência de 37 fotografias a preto e branco que documenta a intervenção que o artista realiza num lugar rural e ao ar livre em Vale do Paraíso, Vila Nova de Gaia. A ação consistia numa marcação formal de um trajeto que o artista percorre com um número de passos pré-definido (75+29+29=133 passos) ao longo do qual estabelece 9 ou 10 locais pontuados com medas feitas de palha e caules de milho, com uma altura de 250 cm. Posteriormente, o artista enfaixa essas medas com tiras de vime, descrevendo um movimento em espiral, sendo toda essa ação de posse documentada fotograficamente, tal com a presença física do artista na paisagem. Esta intervenção esculpe a natureza em formas e corpos naturais que instauram um novo sentido da paisagem.

Entre 1972-1976 leciona escultura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (1972-1985) e na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (1985-1994). Em 1985, recebe o Prémio AICA/SEC. A partir de 1991 realiza os Simpósios Internacionais de Escultura Contemporânea em Santo Tirso, precursores do Museu Internacional de Escultura Contemporânea, inaugurado em 1996. Em 2002 cria o Parque Internacional de Escultura Contemporânea em Carrazeda de Ansiães. Em 2015 recebe o Grande Prémio (Consagração) Amadeo de Souza-Cardoso. Faleceu no Hospital de São João, no Porto, em 2017, após cuidados continuados de saúde. Em novembro de 2021 abre ao público o Centro de Arte Alberto Carneiro, em Santo Tirso, na sequência de uma doação do artista, ainda em vida, de obras destinadas a constituir a Coleção permanente desse Centro.

Hugo Dinis

Alberto Carneiro
Registo de uma intervenção na natureza
1973
Prova de gelatina sal de prata (vintage)
79 x 70 cm
Inv. 422036
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