Em homenagem à vida e obra do artista António Sena, falecido a 16 de outubro de 2024, a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a pintura Sem título (1981).

Nascido a 2 de fevereiro de 1941, António Sena inicia a sua vida académica no Instituto Superior Técnico e na Faculdade de Ciência de Lisboa. Contudo, por influência dos artistas Eurico Gonçalves e Fernando Conduto, desiste do ensino científico, e começa a estudar gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses (SCGP). Em 1964 expõe individualmente em Lisboa na Galeria 111. Em 1965, viaja para Londres como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar na Saint Martin’s School of Art. Vai permanecer na cidade inglesa até 1975, trabalhando na importante Lisson Gallery e participando num contexto artístico emergente. Nesta fase, a sua obra pictórica revela uma aproximação à Arte Pop no tratamento de cores vibrantes, nos conteúdos quotidianos e na técnica expressiva. Após o regresso a Lisboa, dedica-se exclusivamente à sua atividade artística e leciona no Centro de Arte e Comunicação Visual (Ar.Co) de 1978 a 1992.

No final da década de 70, a sua pintura funda a investigação pictórica, através da grafia e do automatismo gestual, que irá desenvolver ao longo da vida: “permanente exercício de uma resistência às suas condições de legibilidade” (João Fernandes). Centrado nestas preocupações – “textos ilegíveis ou garatujar” (Raquel Henriques da Silva), e socorrendo-se de técnicas diversificadas, o artista realiza pinturas abstratas que retratam signos, símbolos, letras e números que se transformam em sinais de um mundo ensimesmado. A partir da década de 80, sua pintura encaminha-se para o abstracionismo lírico. As inscrições e rasuras criam espaços tridimensionais com o auxílio das cores neutras – preto, branco, cinzentos, ocres, castanhos – e de intensos jogos luminosos. A pintura Sem título (1981) é um bom exemplo desta fase. Através da relação entre os planos de cor brancos, as palavras e os traços, a pintura aproxima-se de um quadro de ardósia escrito a giz, como forma “de entender o mundo, sem nunca chegar a descodificar os seus mistérios.” (Emília Ferreira). A sua pintura “é erudita porque usa sinais crípticos, marcas da sua caligrafia macerada, textos apagados e escondidos que transformam cada obra num palimpsesto que compele à interpretação.” (Delfim Sardo).

Em 2002, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma exposição individual e no ano seguinte o Museu Serralves dedicou-lhe uma importante exposição antológica. Em 2002 recebeu o Prémio EDP – Desenho e em 2011 o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.

Hugo Dinis

António Sena
Sem título
1981
Acrílico sobre tela
100 x 150 cm
Inv. 239007
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