No âmbito da divulgação da exposição intitulada 74 x Caldas = Uma ideia clara? – A partir da Coleção da Caixa Geral de Depósitos, com curadoria coletiva da turma 2023/2024 de Programação e Produção Cultural da ESAD.CR – Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha, com Lígia Afonso, destaca-se a pintura Uma ideia clara (2002) do artista Hugo Canoilas. A exposição terá lugar no Centro de Artes das Caldas da Rainha (Museu Leopoldo de Almeida, Atelier-Museu António Duarte, Espaço Concas) e Biblioteca da ESAD.CR, entre 28 de novembro de 2024 e 3 de março de 2025.
Atualmente o trabalho de Hugo Canoilas deambula pelos domínios da escultura, fotografia, vídeo, instalação e performance, mas, que de algum modo, podem ser entendidos como pintura expansiva. A sua prática artística inicial concentrava-se em problemáticas pictóricas e conteúdos formais, que se revelavam em pinturas inquietantes e questionáveis: Uma ideia clara é uma dessas obras. Um trapézio retangular monocromático branco descansa suavemente, com uma ligeira inclinação, sobre a superfície da tela crua. Este desajuste, entre a superfície pintada e a tela, torna-se uma interrogação sobre os caminhos da pintura e a sua pertinência numa sociedade imersa em imagens fotográficas e abstrações digitais. Neste sentido, a pintura desequilibrada questiona a sua própria história e as suas diversas ramificações, nomeadamente, o suprematismo russo de Kazimir Malevich, ou o dadaísmo de Marcel Duchamp. Ao voltar atrás da sua própria história, esta pintura refaz-se e torna-se presente. “Refazer implica uma aguda consciência do tempo e do hiato entre o que se faz e o que foi, em tempos, realizado.” (Delfim Sardo). A redução do gesto pictórico ao mínimo, trata-se apenas um trapézio branco num fundo neutro, revela também a exigência na sua perceção. O espectador é praticamente coagido a reagir e a interpretar o que vê. Esta interação forçada é, ela própria, um convite à renovação do olhar de quem vê, onde “as obras parecem estar livre e incondicionalmente à disposição de todos.” (Nuno Crespo). “A arte é (...) o que se pode fazer com ela, mais do que o que ela parece.” (Hugo Canoilas). O ato político reside aqui mesmo, cada um vê algo diferente e vê, também, sempre algo novo, em que “a relação retiniana é substituída por uma percepção assente na dimensão corporal, propiciando-se uma experiência multissensorial.” (Miguel Amado).
Hugo Canoilas nasceu em Lisboa em 1977. Atualmente fixou residência em Viena, na Áustria. Licenciou-se em Estudos de Artes Visuais pela Escola Superior de Arte e Design de Caldas da Rainha e concluiu o mestrado em Pintura no Royal College of Art, em Londres, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Das diversas exposições individuais e coletivas em que participou, destacam-se das mais recentes: Centro das Artes Visuais em Coimbra e Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ambas em 2022; Museu Moderner Kunst Stiftung Ludwig (2021), em Viena; Museu de Serralves (2020), no Porto; Atelier-Museu Júlio Pomar e Galeria ZDB, ambas em Lisboa em 2019. Em 2012, participou na XXX Bienal de São Paulo, no Brasil.
Hugo Dinis