A pulsão pelo infinito
por Pedro Machado, investigador e astrofísico
As escalas de tempo e a dimensão enorme do Universo. Será que é possível o ser humano entrar em diálogo com estas escalas cósmicas? Vejam, por exemplo, uma viagem até aos exoplanetas que nós andamos a descobrir. Planetas que orbitam outras estrelas e que estão a muitos anos-luz de distância de nós. A biliões e biliões de quilómetros de nós. Será que um dia poderemos fazer esta viagem, de uma dimensão colossal?
E será que neste processo da viagem nos vamos perder a nós próprios? Vamos diminuir a nossa própria consciência? Como sobreviver à enorme escala de tempo associada a uma viagem para além das estrelas? Bom, podemos pensar que passaremos este tempo enorme a viver numa espécie de sucedâneo da nossa vida terrestre - a ver filmes, a ler livros, a criar. Ou podemos pensar que é psicologicamente impossível encaixar isso com a manutenção de um equilíbrio e de uma harmonia do nosso ser. Então, e em alternativa?
Podemos, obviamente, pensar num estado de letargia, num modo de suspensão da vida, como vemos em muitos filmes de ficção científica. Mas, quando acordarmos, poderemos ser nós novamente? Onde é que vão estar as nossas referências? Onde é que vão estar os arquétipos que nos guiam, quais faróis e bússolas na nossa vida quotidiana? Será tudo tão diferente! Será que poderemos manter o nosso equilíbrio mental? Será que poderemos até funcionar nestes novos mundos, além da linha do horizonte? Literalmente, além da linha do horizonte.
+ Continuar a LerE há outra questão que está ligada com esta possibilidade de viajar para tão longe da nossa existência actual. Vamos poder encontrar outras formas de vida? É algo que nós já fazemos. Estamos neste momento a envidar esforços, experiências, para tentar encontrar vida alienígena. Vida para além daquela que nós conhecemos no nosso planeta Terra. Já fazemos isso há alguns anos nos planetas do sistema solar. E neste momento há o dealbar de uma nova era. Podemos começar a caracterizar as atmosferas dos exoplanetas, os tais planetas que orbitam outras estrelas que não o Sol.
Mas, será que se nós encontrarmos uma nova forma de vida a vamos reconhecer como outra? E iremos reconhecê-la como vida? O que é isso da vida? Só a definição do que é a vida, já em si, não é nada de trivial. Vejamos. Imaginem um planeta aquático, um planeta oceano. Como já foram descobertos alguns, inclusive, pela nossa ciência. E imaginem que este planeta aquático desenvolveu, nos seus mares, moléculas orgânicas complexas e ácidos nucleicos. Vamos supor, neste exercício de imaginação que vos peço, que se desenvolve uma consciência no próprio planeta. O planeta é, em si, um ser senciente. É, em si, um ser pensante. Qual hipótese Gaia. Mas esta ideia já vem de longe. O escritor Stanislaw Lem escreveu um livro chamado Solaris, que trata exactamente desta hipótese de que estamos a falar. Seria possível comunicarmos com este planeta? Seria possível nós interagirmos com essa forma de vida, totalmente diferente da nossa? Reparem, em geral a ficção científica é muito centrada, mais uma vez, nos arquétipos que nós temos, muito centrada em construir a partir de algo que nós já conhecemos, como se fossem peças de Lego. E sendo assim, no fundo, a ficção científica dá-nos a reconhecer aquilo que nós já sabemos e não a apreender algo totalmente novo. Portanto, encontrar e comunicar, eu diria até, de uma forma ética e correcta, com novas formas de vida, é um enorme desafio. E para isso é importante pensarmos em conjunto. Aí, a ciência necessita muito da ajuda da cidadania, necessita muito da ajuda da psicologia, necessita imenso da ajuda da filosofia. Aliás, apesar dos grandes saltos tecnológicos que a ciência tem vindo a dar nos últimos anos, estes são essencialmente aplicações de ciência que já vêm muito de trás. Não há realmente enormes disrupções científicas nos anos mais recentes. Eu diria que é preciso, de novo, uma reaproximação entre a ciência e a filosofia.
A arte, a música, a literatura, as artes plásticas, a dança; serão importantes estas formas de sentir e pensar para a ciência? Eu diria que, cada vez mais, é claro na ciência que existe uma matriz de dedução racional, mas que em sua volta existem outras formas de apreender o mundo real que funcionam como aceleradores do processo dedutivo - métodos indutivos que ajudam a acelerar a forma global do pensamento. Chama-se a este misto de formas uma forma abdutiva de interagir com o real. E faz sentido? Ah sim, claro! Porque é uma maneira de, perante mundos novos, por exemplo quando estamos fora da nossa zona de conforto, podermos fazer várias tentativas, como uma criança a brincar. Este método abdutivo torna muito mais rápidos os processos de aquisição de dados e informação que, a seguir, a nossa forma mais profunda, racional, pode utilizar para desenvolver uma teoria ou uma maneira de podermos interagir com estes novos mundos.
O autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico.
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Raul Cerveira Lima, crónica Público
O impacto da luz no ciclo circadiano. Banda Desenhada Ilumina o teu relógio, da autoria de Coline Weinzaepflen, disponível para download.
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EDIÇÃO
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