Evan Roth (Michigan, 1978) é um artista norte-americano radicado em Berlim que tem vindo a desenvolver um trabalho sistemático sobre as redes de comunicação e em particular sobre os circuitos de cabos subaquáticos que compõem a infraestrutura em que assenta a internet. Partindo de uma pesquisa aturada sobre os locais de onde são lançados os cabos que, desde o telégrafo, possibilitam a comunicação entre continentes, Roth iniciou um processo de mapeamento videográfico das zonas costeiras ligadas à história desta rede de comunicação.
A origem do trabalho de Evan Roth situa-se no interesse que tem pela componente física e material da internet, pelo lado corporalizado da rede, o qual tem vindo a rastrear através da realização de filmes que documentam as paisagens das zonas costeiras de onde partem e chegam os referidos cabos subaquáticos. Recorrendo a uma câmara de infravermelhos para filmar durante o dia, as zonas registadas ficam convertidas em paisagens pictóricas, ou em detalhados desenhos a sanguínea, numa aparente contradição com a componente tecnológica inerente às redes de comunicação digital. Fruto de uma colaboração com a organização britânica Artangel, este projeto de investigação, possui duas componentes que se cruzam: por um lado, a sua componente virtual determina que se pode descarregar a totalidade dos vídeos captadas pelo artista a partir de um website cujo acesso livre recorda as origens da internet como campo de liberdade e de partilha sem limites; por outro lado, a componente instalativa que adquiriu a partir de 2016, quando o projeto começou a migrar para o espaço expositivo, fez estreitar um laço insuspeito entre pintura e imagem digital.
Os enquadramentos encontrados pelo artista, o seu rigor compositivo, a par das mínimas alterações ao elemento natural que os vídeos registam – uma onda que requebra, um ramo que balouça, uma sombra que se esbate – reforçam a ligação destas imagens com a pintura de paisagem e fazem surgir o fantasma de uma nostalgia por um mundo definitivamente perdido.
Foi nesse sentido que o projeto realizado em Portugal se encaminhou, fortalecendo ainda mais a conotação romântica a que essa nostalgia alude através da decisão de conjugar as imagens digitais captadas por Roth com pinturas oitocentistas da autoria de celebrados pintores como Artur Loureiro, Henrique Pousão e Silva Porto. A seleção das pinturas, todas elas oriundas da Coleção do Museu Nacional Soares dos Reis (cuja colaboração no projeto se revelou fundamental), foi feita pelo próprio artista e incide sobre pinturas paisagísticas românticas e naturalistas, unidas por uma certa sensibilidade em relação à orla costeira portuguesa, por vezes representando lugares muito próximos daqueles que Roth captou em vídeo. O resultado, materializado em dípticos e polípticos que dramatizam o confronto entre a manualidade pictórica e o lirismo digital, parece propor um universo híbrido, porventura comum à fisicalidade daquilo a que normalmente chamamos “a nuvem”.
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FICHA TÉCNICA
PROGRAMAÇÃO DE ARTES VISUAIS
Bruno Marchand
CURADORIA
Delfim Sardo
ASSISTENTE DE CURADORIA
Sílvia Gomes
COORDENADOR DE PRODUÇÃO
António Sequeira Lopes
PRODUÇÃO
(CULTURGEST PORTO)
Susana Sameiro
ASSISTENTE
(CULTURGEST PORTO)
Rui Osório
MONTAGEM
Bruno Fonseca
Renato Ferrão
Hernâni Reis
AGRADECIMENTOS
DGPC – Direção Geral do Património Cultural
Directorate General for Cultural Heritage (DGPC, Portugal)
MNSR – Museu Nacional Soares dos Reis
National Museum Soares dos Reis (Oporto, Portugal)
Artangel (Londres, Reino Unido / London, UK)
Ana Mântua
Ana Paula Machado
Bernardo Alabaça
Charmian Griffin
James Lingwood
Red Lines é comissionado e produzido pela Artangel (Londres). O projeto é generosamente apoiado pela Creative Capital. O ciclo Reação em Cadeia (Fidelidade Arte e Culturgest) contribuiu para incluir a costa portuguesa na rede e mapa: https://redlines.network/