FAZER
Das paredes da galeria à revista impressa

Uma revista de design e arquitetura
em português

Fazer é, simultaneamente, uma revista e uma exposição. Os conteúdos criados para as páginas da revista são dispostos no espaço da galeria antes de chegarem ao papel. Depois do primeiro número ter sido exposto nas galerida da Fidelidade Arte, em Lisboa, o segundo dá-se a conhecer na Culturgest Porto.
 Concebida e dirigida por dois críticos e curadores de design, Fazer procura definir os territórios de agência do design contemporâneo pelas vozes daqueles que lhe dão forma, em Portugal e no estrangeiro.
Das paredes da galeria da Culturgest Porto à revista imprensa, partilhamos neste microsite os temas que estão em debate no nº2 da revista Fazer.

TODO O DESIGN É LOCAL
Fazer #2

"Nesta exposição do ciclo Território, e nas páginas da revista impressa lançada na sua finissage, focamo-nos em questões que tanto são locais à cidade do Porto ou à região Norte de Portugal como a Madrid e Barcelona, Estónia e Suécia. Tal como na Fazer #1, trazemos perspectivas críticas externas a carreiras e projectos nacionais, ampliando a própria ideia de local. E abordamos não só as práticas mas também as políticas que dão contexto, propósito e forma aos seus resultados. 

Se a cidade e a cidadania podem ser vistas como um leitmotiv desta edição e exposição, a sua principal secção dedica-se à escola e à inovação. A nossa primeira colheita de trabalhos finais de licenciatura, mestrado e doutoramento em design revela, também, perspectivas situadas sobre as histórias, as comunidades e os ecossistemas em que vivemos e para os quais projectamos. 

Este segundo passo da Fazer deseja reforçar o nosso compromisso para com a comunidade que pretendemos servir. Ao longo destas 12 semanas queremos fazer desta exposição um local de encontro e debate, de criação e ampliação de vozes e ideias sobre design e tudo o que o circunda. Contamos convosco."

Frederico Duarte e Vera Sacchetti (curadores)

NA PRIMEIRA PESSOA

Como se manifesta a polifonia numa cidade?

© Renato Cruz Santos.© Renato Cruz Santos.
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NACHO PADILLA

Nacho Padilla (Madrid, 1970) é um copywriter e diretor criativo reconhecido no meio espanhol da publicidade. Em 2016, foi convidado por Manuela Carmena, recém-eleita presidente da câmara municipal de Madrid, para ser o diretor criativo da cidade. Após ter sido reeleita presidente da câmara municipal de Barcelona, Ada Colau convidou-o em 2020 a juntar-se à sua equipa. Os cargos que Padilla ocupou nas duas maiores cidades de Espanha são únicos a nível mundial. Os resultados do seu trabalho também: coordenou mais de 150 designers, ilustradores e mais profissionais da área criativa entre 2016 e 2023, que criaram uma comunicação urbana verdadeiramente original, polifónica e política.

Na exposição e nesta conversa com Nacho Padilla, Frederico Duarte e Vera Sacchetti, temos oportunidade de saber, entre outros assuntos, como estas duas cidades, governadas por administrações assumidamente progressistas, projetaram a sua voz pública e oficial. Feitas a muitas mãos, celebram lutas e conquistas de mulheres, imigrantes, comunidade LGBT, crianças ou pessoas idosas.

Nestes exemplos de design para a cidadania, expresso em cartazes para eventos culturais e festas populares, folhetos informativos ou elementos gráficos de urbanismo tático, verificamos ainda o impacto das mudanças políticas em Espanha, da pandemia de covid-19 ou da crise climática.

Padilla soube, contornando as idiossincrasias da administração municipal, criar condições à contratação de serviços de design que favorecem a qualidade e a diversidade em detrimento da mesmice ou do preço mais baixo. Mostrando que ser diretor criativo de uma cidade requer ser um gestor público que alia talento, imaginação e um conhecimento profundo do seu setor.

© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos
© Renato Cruz Santos

HABITAÇÃO ACESSÍVEL, HOJE

Por toda a Europa, assiste­-se desde os anos 1980 a uma progressiva regressão no investimento público em habitação pública e desregulação do mercado imobiliário. Hoje, enquanto a chamada “nova crise de habitação” afeta sobretudo a classe média, o acesso a casa própria é inacessível para muitas famílias, especialmente as mais jovens.

Como reação a esta situação, o governo português, através do Programa Nacional de Habitação (Lei 2/2024), estabeleceu como meta para 2026 o reforço do parque habitacional público com a concretização de 26000 soluções habitacionais para quem não tem a capacidade financeira de aceder a elas através do mercado. Nessa incumbência, o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) lançou vinte e seis concursos de concepção – leia­se, de design – que correspondem a 2816 casas construídas no âmbito do regime de Habitação a Custos Controlados (HCC), e destinadas a arrendamento no Programa de Arrendamento Acessível (PAA).

Com prazos ambiciosos e regulamentos concisos, estes concursos foram montados de uma forma aparentemente precipitada, sem atenção às especificidades dos locais de intervenção, que vão do norte ao sul do país. Apesar destas condições, vários ateliês de arquitetura concorreram a estes concursos, ganhando uns e perdendo outros.

Nesta conversa com Alexandra Areia, arquiteta e investigadora, exploramos este tema tendo como base as respostas de três ateliês apresentadas na Fazer #2 – Fala Atelier, Inês Lobo Arquitectos, e Figueiredo+Pena – a alguns dos desafios lançados pelo IHRU. Analisando propostas diferentes, propõe-­se uma reflexão sobre como hoje pensamos e queremos conceber a habitação acessível em Portugal. 

© Renato Cruz Santos.© Renato Cruz Santos.
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O que são os concursos IHRU?

Sobre a experiência de trabalho a concorrer aos IHRU

Considerações e fragilidades acerca dos concursos IHRU

© Renato Cruz Santos.© Renato Cruz Santos.
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© Renato Cruz Santos

SE ESSA RUA FOSSE MINHA

Em 2019 foi atribuído ao Município do Porto o reconhecimento de Cidade Amiga das Crianças. Esta certificação, promovida e acompanhada pela UNICEF desde 2015, procura promover condições de acesso a bens e recursos que promovam a qualidade de vida das crianças, enquanto procura integrar os seus contributos na definição das políticas da cidade.

Uma parte fundamental deste trabalho passa pela melhoria da mobilidade, através da expansão da rede de ciclovias, oferta de transportes públicos e melhoria das condições de circulação para os peões. Outra, pela manutenção e ampliação dos espaços lúdicos ao ar livre para os mais novos. Embora muitas destas intervenções tenham sido efetuadas nos últimos anos no Porto, pouco ou nada mudou na autonomia dada às crianças na cidade. A grande maioria vai de carro para a escola. Os parques infantis e zonas de recreio são restritos e vedados.

Entretanto, no Porto e noutras cidades do mundo iniciativas de cidadãos procuram mudar atitudes e preconceitos sobre a agência dos mais novos nas suas cidades. O livro Se Essa Rua Fosse Minha, da autoria de Peter Füssy, com ilustrações de Thaís Mesquita, apresentado na Fazer #2, é um resultado direto dessa defesa de direitos cidadãos.

Imaginemos uma cidade em que a mobilidade das crianças é encorajada, o que transforma a forma como desfrutamos da mesma. Esta conversa com Peter Füssy, recém-chegado ao Porto, ex-jornalista e pai de uma criança de três anos, Ana Cristina Fernandes, especialista em Planeamento da Mobilidade Urbana, Tráfego e Transportes da Câmara de Matosinhos e Daniel Casas Valle, urban designer e fundador da associação Future Design of Street, convida­-nos a mudar de perspectiva, centrando as crianças como agentes principais no design de uma cidade diferente – melhor para elas e fundamentalmente melhor para todas as pessoas.

Peter Füssy - autor do livro Se essa rua fosse minha - e como começou a pensar acessibilidade nas cidades.

 

Olhar para fora para repensar o que questões de acessibilidade em Portugal. Ana Cristina Fernandes

“Todos os nós influenciamos como são as ruas: se estacionamos o carro no passeio, se conduzimos rápido, se atravessamos a estrada com sinal vermelho com crianças ou não (...). O espaço público nunca está acabado, mas está sempre em transformação. E nós podemos fazer diferente. O desenho em si, é só um fragmento muito pequeno. Obviamente que a estrutura é importante, mas se temos num passeio com 4m temos sempre carros estacionados, não adianta de nada. A parte que não se pode desenhar, também interessa."
Daniel Casas Valle
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Sobre Frederico Duarte e Vera Sacchetti

Frederico Duarte é um crítico e curador de design. Tem uma licenciatura em design de comunicação pela FBAUL, um mestrado em crítica de design pela SVA e um doutoramento em curadoria pela Birkbeck College e Victoria & Albert Museum. É atualmente assistente auxiliar convidado na FBAUL, coordenador de comunicação do projecto Bauhaus of the Seas Sails no Interactive Technologies Institute do IST e co-fundador da revista Fazer.

Vera Sacchetti é crítica de design e curadora que vive em Basileia (Suíça). Especializada em design e arquitetura contemporânea, atua em diversas funções curatoriais, de pesquisa e editoriais. Concluiu recentemente a iniciativa de investigação multidisciplinar Driving the Human: Seven Prototypes for Eco-social Renewal (2020-2023), da qual foi coordenadora de programa. Atualmente, é criadora da plataforma Design and Democracy (2020–), leciona na HEAD Genebra e, em 2020, ingressou na Comissão Federal de Design da Suíça.
 

Fidelidade Arte | Curadores | Frederico Duarte e Vera Sacchetti
FICHA TÉCNICA

IMAGENS
Renato Cruz Santos

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Maria João Macedo & Queo