A HISTÓRIA DO LIVRO POR ESCREVER

Como dar vida aos desejos que ficam por concretizar?

 

Quando o pai de Tiago Rodrigues adoeceu, a voluntária Teresa visitava-o frequentemente no hospital. O pai sempre odiou iogurte, mas, no hospital, passou a comer porque fazia parte da sua dieta. Um dia, o pai pediu um caderno e uma caneta para escrever as suas memórias. Após a sua morte, Tiago encontrou apenas rabiscos.
A partir desse caderno, e da voluntária Teresa, Tiago escreveu No Yogurt for the Dead, sobre uma voluntária e um homem prestes a morrer. Nos ensaios do espetáculo, Beatriz Brás lê uma reportagem de Rogério Rodrigues sobre Teresa Torga, enquanto Manuela Azevedo canta "Teresa Torga", de Zeca Afonso, numa versão para espetáculo de Hélder Gonçalves, tocada ao vivo por Hélder Gonçalves.
Para ouvir n'O Projeto Invísivel, a revista sonora da Culturgest.
Tiago Rodrigues / NTGent, No Yogurt for the Dead - Histoire(s) du Théatre VI

TERESA TORGA

Zeca Afonso

 
No centro da Avenida no cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga
aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela
Teresa Torga Teresa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha
«(…) a expressão de um desejo colectivo tão velho como a humanidade: escapar à morte, ou então ressuscitar, reencarnar, sobreviver-lhe. A expressão colectiva de um desejo colectivo, melhor dizendo, porque para que este pai ressuscitasse foi preciso trazer também a mãe, o irmão, a avó, o avô; o tio que morreu na Guerra Colonial, o outro que não lia com os olhos mas com os dedos; Amália, Camões, Jacques Brel, José Afonso, Teresa Torga; Beatriz Brás, Lisah Adeaga, Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves. Jornalistas, empregados de café, bandidos, políticos, gente generosa, gente duvidosa. Os vivos, os mortos. Como num funeral, só que antes.»

Inês Nadais, Público
© Michiel Devijver
© Michiel Devijver
© Michiel Devijver
© Michiel Devijver
© Michiel Devijver
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«Tem episódios autobiográficos, é explícito o lado pessoal, mas tenho a sensação de que não é necessariamente mais pessoal do que outras que possam parecer mais ficcionais e menos ancoradas no real, como “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas” ou mesmo “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas”. Nessas, a dimensão pessoal surge de outro ângulo, mas é igualmente forte. Há algo na história da peça que é sobre a minha necessidade de fazer teatro para procurar um sentido para algo universal, que vivi pessoalmente. Neste caso, a perda de um pai, a questão da morte e o tempo que partilhamos com alguém. Também a possibilidade de continuar a estar com esse alguém através da arte, da escrita e do teatro.»
Tiago Rodrigues sobre No Yogurt for the Dead, Expresso
NTGent, No Yogurt for the Dead - Histoire(s) du Théatre VI
FICHA TÉCNICA

FOTOGRAFIAS
Michiel Devijver

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Maria João Macedo & Queo

NO YOGURT FOR THE DEAD É UMA PRODUÇÃO NTGENT

  • Coprodução Culturgest Lisboa, Wiener Festwochen, Piccolo Teatro di Milano – Teatro d’Europa.
    Inserida na série Histoire(s) du Théâtre, concebido e programado por Milo Rau.