TORNAR VISÍVEL O INVISÍVEL

Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas ideias.

A Natureza é partes sem um todo.
Isto e talvez o tal mistério de que falam.

 

XL, O Guardador de Rebanhos. Poemas de Alberto Caeiro.

RITA NATÁLIO EM DISCURSO DIRETO

Em As Formas do Visível, Philippe Descola, volta a falar-nos da relação da cultura com a natureza. O que é a rede Terra Batida e de que forma está alinhada com o filme Composer les mondes e as ideias apresentadas por Descola?
No contexto português em que a produção cultural e artística apresenta as fragilidades que conhecemos, que espaço existe para pensar a sustentabilidade na produção de projetos? 
 
Em Composer les mondes assistimos à experiência de Descola no contacto com o povo indígena Achuar, na Amazónia. O antropólogo refere que não existe uma palavra que remeta para a ideia de natureza como nós a conhecemos, mas sim a ideia de partes como são as plantas e as árvores. Em que medida achas que a forma como nos relacionamos com o meio ambiente condiciona as nossas visões sociais, políticas e culturais?

"Como é que iniciámos um processo que levou a Terra a tornar-se menos habitável? E como podemos travar este movimento?"

Composer les mondes - trailer
A rede Terra Batida organiza anualmente programas de residência artística para que artistas, cientistas e ativistas se cruzem no acompanhamento de conflitos socioambientais. Destes programas, emergem pesquisas e propostas artísticas compartilhadas publicamente através de conversas, performances, experiências, textos, caminhadas, etc.. Estudar de perto a hegemonia e a monocultura da violência ecológica através de processos artísticos, é também uma forma de nutrir sensibilidades biodiversas e eticamente vinculadas ao turbilhão de problemas que muites têm chamado de Antropoceno. A partir da experiência enquanto responsável pela curadoria do projeto e pela moderação da conversa que segue à sessão de visionamento de Composer les mondes, falámos com Rita Natálio sobre o filme, o trabalho desenvolvido na Terra Batida e a visão da antropologia comparativa das relações entre humanos e não-humanos desenvolvida por Descola.
FICHA TÉCNICA

FOTOGRAFIA
Amigos Ice Cream Productions.

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO CONTEÚDOS
Helena César

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