As Variações Goldberg pertencem ao período tardio de Bach, no qual o compositor estica os limites dos temas musicais, num jogo de variações, cânones e fugas. A composição parte de uma melodia simples e tranquila, que se vai desdobrando num universo musical de uma variedade extraordinária e uma complexidade sem paralelo.
No seguimento das suas coreografias dos Cello Suites e dos Concertos Brandeburgueses, Anne Teresa De Keersmaeker continua a sua relação com Bach, desta vez no formato de um solo, interpretado pela própria coreógrafa e acompanhada pelo pianista Pavel Kolesnikov. Com mais de trinta variações do tema principal, a música coloca um verdadeiro desafio à coreografia: como encontrar uma forma de dança capaz de adaptação e flexibilidade, mantendo um núcleo imutável. Para De Keersmaeker, as Variações Goldberg representam um convite a consolidar o caminho percorrido, na sua busca contínua por um idioma coreográfico pessoal.

Entre janeiro e março, a companhia de dança Rosas apresenta duas coreografias de Anne Teresa De Keersmaeker com música de Johann Sebastian Bach, na Fundação Gulbenkian e na Culturgest. Em ambos os casos, a música é interpretada ao vivo por músicos da primeira ordem: o violoncelista Jean-Guihen Queyras interpreta os Seis Cello Suites na primeira peça, enquanto o pianista Pavel Kolesnikov toca as Variações Goldberg na segunda. Uma oportunidade única de ouvir e, de certa forma, “ver” alguma da música mais bela alguma vez escrita.