Parece que aconteceu uma vida inteira depois de Maria Reis visitar a Culturgest no início de 2020. Em retrospetiva, foi uma espécie de festa final para uma plateia rendida, onde celebrámos intensamente todas as emoções através do seu aplaudidíssimo Chove na Sala, Água nos Olhos, bem antes de nos fecharmos nos casulos por conta de uma pandemia. Se pelo meio da reclusão A Flor da Urtiga nos mostrou um pequeno disco com enormes pérolas pop produzidas por Panda Bear, é da saída desta longa temporada de recolhimento que percebemos o que Maria Reis andou incessantemente à procura. Dos dias de solidão, foi descobrindo a viola campaniça, a força de estar sozinha com outros instrumentos, e o poder de fazer canções de gume progressivamente mais afiado que vão revelando, cada vez mais, uma voz única no panorama musical português. Maria Reis canta sobre si, sobre o seu mundo infinito, com a honestidade na boca e uma fúria controlada sem igual, carregando com um sorriso na cara a autoridade suprema de poder representar uma geração inteira.