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Matilde Meireles
Matilde Meireles
Jones’s Mill é situada na região de Wiltshire no sudeste de Inglaterra, mais precisamente no North Wessex Downs, a meia hora do Stonehenge, junto à vila de Pewsey. Wiltshire é uma zona particularmente conhecida pela sua beleza natural e mística que vai desde os misteriosos “crop circles” às lendas pré-históricas. Jones’s Mill é denominada Site of Special Scientific Interest (SSSI) ou Local de Especial Interesse Cientifico: são áreas importantes para a ciência devido às espécies raras de fauna ou flora que contêm, características geológicas ou fisiológicas. A floresta pantanosa e húmida que a reserva contém serve de habitat para animais como os ratos-do-mar, libélulas, pica-paus, guarda-rios e garças reais, sendo igualmente o exemplo mais conhecido de um vale calcário na zona de Wiltshire. Mas Jones’s Mill não é apenas uma bolha intocável, pois partilha a sua fronteira com os 3600 habitantes da vila de Pewsey e recebe a linha férrea que atravessa o sul de Inglaterra ligando Londres à Cornualha.
Foi neste cenário de aparente equilíbrio onde Matilde Meireles recolheu vasta matéria sonora para a sua peça, registando a atividade da vida selvagem entre as estações do inverno e primavera, bem como a presença humana, direta (através da existência de habitantes e visitantes, bem como do tráfego ferroviário) e indireta (pela criação e manutenção da própria reserva). O ponto de partida para este trabalho ocorreu com a sua experiência sobre a exposição retrospetiva de Gabriela Albergaria na Culturgest. Em “A Natureza detesta linhas retas”, a artista plástica alude à transformação do meio natural pela ação humana, desde a aceleração do progresso até à intervenção deliberada na reconstrução de sistemas verdes, onde processos de manipulação na natureza são questionados e expostos. Em “MILL~MMXXI” escutamos essa apurada reflexão de Matilde Meireles, tangente às preocupações de Gabriela Albergaria, expondo uma representação sonora eletroacústica de um ecossistema definido por legislação, selvagem mas vizinho da presença humana.
“Sonorous Cities: Towards a Sonic Urbanism” (Cidades sonoras: a caminho do urbanismo sónico) é o atual projeto nas mãos de Matilde Meireles como artista sonora e investigadora durante os próximos três anos no pós-doutoramento da Universidade de Oxford. Antes, fez o doutoramento no Sonic Arts Research Centre da Queen’s University de Belfast, Irlanda do Norte. Tem usado as gravações de campo como fonte privilegiada para os seus projetos site-specific, ligando-os às artes visuais ou design, apresentando o seu trabalho em forma de instalações, concertos e projectos comunitários. Em Portugal, Matilde Meireles é membro da associação cultural e multidisciplinar OSSO. Tem trabalho sonoro editado na Crónica, Octophono, Tone Burst e multi.modal.