Este evento já decorreu.

TÓ TRIPS

Popular Jaguar

TÓ TRIPS

Popular Jaguar

O jaguar é um felino da América, de pelo malhado, próximo do leopardo, mas um décimo desta espécie veste um lustroso pelo negro, tornando-o num animal noturno, perigoso e misterioso. É fácil criarmos narrativas que liguem este lindíssimo predador ao universo de Tó Trips, um músico essencial da música portuguesa das últimas décadas mas que tem preferido habitar a sombra e cultivar um certo anonimato ficcionado. Basta lembrarmo-nos como aparecia nos Dead Combo, mais empenhado em construir uma silhueta que um retrato. Pelo meio dessa aventura com Pedro Gonçalves, o seu lado mais jaguar, a solo, foi com Guitarra 66, de 2009, e Guitarra Makaka, de 2015, que nos foi musicando a sua autobiografia mais transparente. Oito anos depois, Tó Trips sai da sombra e abocanha-nos em 2023 com o seu novo disco, feito de histórias recentes e antigas para guitarra, gravadas meticulosamente, ao longo dos últimos três anos, também com a companhia de António Quintino e Helena Espvall, que se juntam em palco na Culturgest como uma popular alcateia.

Tó Trips está de regresso com Popular Jaguar mas também com um um livro de fotografias, textos e anotações dos lugares percorridos ao longo dos anos com os Dead Combo. Na Culturgest, apresenta Popular Jaguar na companhia de António Quintino e Helena Espvall e, aqui, deixa-nos uma leitura de Ínfimas Coisas. Um “road & roll book by Tó Trips”.
© Kid Richards.

17 MAR 2023
SEX 21:00

Esgotado
Auditório Emílio Rui Vilar
15€ (descontos)
M/6

Biografia Tó Trips

Senhor de uma presença discreta mas continuamente substancial na movida musical deste burgo, Tó Trips amealha já praticamente quatro décadas de ofício à guitarra, num caso raro de resiliência benigna e constante inventividade. Com fundações nos Amen Sacristi em plena era do Rock Rendez-Vous, hoje refundidos na memória desses tempos insurrectos à sombra da CEE, passou pelos seminais Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre de Jorge Ferraz para daí fundar os Lulu Blind. Banda icónica de uma certa juventude sónica que se propagou um pouco por todo o país durante a década de 90, deixaram como respeitável legado três álbuns em flirt com a exposição mediática do mainstream e lembranças de concertos incendiários.

Nos inícios deste século, e após o término orgânico dos Lulu Blind, começa a delinear de forma mais inquisitiva a sua linguagem à guitarra, deixando de lado a inquietude electrificada e de dentes cerrados da década precedente para a dotar de um poder imagético tão vasto quanto singular. É com a formação dos Dead Combo, ao lado do saudoso Pedro Gonçalves, que primeiro ouvimos esses acordes. Duo que se assumiu de forma singela como music with Lisbon inside e que criou ao longo de 15 anos - até à morte prematura de Gonçalves - um reflexo dessa mesma Lisboa - e por arrasto também deste país - aberta a outros mundos, hospedeira de linguagens e culturas. Na música dos Dead Combo, e em particular na sua guitarra, o fantasma de Carlos Paredes assombrava o lirismo de Enio Morricone, as paisagens de Ry Cooder dão lugar ao fervor do flamenco, a ginga cubana enviesada por Marc Ribot dá andamento à boémia lisboeta, cruzando histórias e latitudes de um modo tão honesto quanto seu. 

Uma guitarra com gente dentro, tal como a do mestre Paredes, populada por memórias e vivências, que teve na sua estreia a solo - Guitarra 66 - o seu primeiro traço abertamente autobiográfico. Disco cru e luminoso editado pela Mbari em 2009, onde Trips projectava um cruzamento multicultural muito intuitivo na forma e na abordagem, como quem habita o real e o imaginário com igual fervor. Paralelamente, vai expandindo a sua linguagem através de colaborações pontuais e projetos como Timespine, ao lado de Adriana Sá e John Klima, numa consequência natural dessa demanda contínua por horizontes mais vastos, nunca tacanhos ou fechados na sua própria fórmula. Em 2015, lança novamente pela Mbari o seu segundo disco a solo: Guitarra Makaka - Danças a um Deus Desconhecido. Álbum gravado à guitarra Resonator, instrumento habitualmente conotado com os blues via Bukka White, que é aqui revisto a uma luz igualmente instintiva mas distante do cânone do género. Novamente, todo um imaginário muito seu.

Chegados a 2023, com a banda sonora para Surdina de Rodrigo Areias e a formação do Club Makumba a mediarem de forma mais que digna estes oito anos, Tó Trips lança pela Revolve o seu terceiro álbum, fruto de três anos de labuta. Intitulado Popular Jaguar, toma inspiração no animal, que se movimenta na sombra, para daí erigir pequenas histórias instrumentais vividas pelo seu autor, naquele que é o seu trabalho mais autobiográfico e o primeiro a ser lançado após os Dead Combo. Título mais do que certeiro para a própria vivência de Tó Trips, Popular Jaguar traz na capa o guitarrista na sombra, como aquela figura que reconhecemos mas nunca delineamos na sua plenitude. Disco de mistérios, silêncios e lugares, existem nele referências geográficas - L.A. Chet, Napoli Blue Dreams ou Nazaré em Câmara Lenta -, alusões à transcendência - O Processo de uma Aparição ou Deus do Vento - e situações bem concretas do quotidiano - Dançar em Frente ao Espelho ou Amor em Tempos Fodidos - num mosaico vivido e pleno de lirismo, numa tessitura de acordes dolentes e notas que cortam com tudo aquilo que possa soar superficial. No fundo, Trips ao seu mais despojado, e curiosamente mais aberto. Sempre ele.

Apoio

Antena 3Rádio Futura

Guitarra

Tó Trips

Contrabaixo

António Quintino

Violoncelo

Helena Espvall

Partilhar Facebook / Twitter