O programa proposto por Maria do Carmo Piçarra prolonga o diálogo em torno de Fogo no Lodo (2023) incluindo filmes que projetam declinações de como a Guiné-Bissau vem sendo imaginada. Aciona um campo/contracampo rememorativo para sublinhar como o filme de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, e a exposição O Chão é Lava! contribuem para erigir um fora de campo que se faz clarão. Materializa-se num dispositivo através do qual, às representações da situação colonial em filmes amadores – Percurso de uma família na visita à Exposição do Mundo Português (1940), e Missão Antropológica da Guiné (1958), que fixa uma missão de 1947-48 –, apresentados num monitor, são contrapostos, em grande ecrã, a filme anticoloniais.

Em 1963, Amílcar Cabral autorizou o resistente antinazi francês Mario Marret a filmar a luta anticolonial. Nossa Terra (1966) foi o segundo filme realizado por Marret na Guiné-Bissau, após Lala Quema, hoje desaparecido. 

Com a colaboração dos guineenses formados em cinema em Cuba – Flora Gomes, Sana na N’Hada, Josefina Crato e José Bolama –, No Pintcha (1979) foi realizado pelo italiano Sergio Spina durante o 3.º Congresso da Independência para a Unidade e o Desenvolvimento, perspetivando o país em construção e o legado de quinhentos anos de colonialismo.

PROJEÇÃO:

Nossa Terra, 1966
Realizado por Mario Marret
Som, 35’
Association Talitha, Rennes

No Pintcha, 1979
Realizado por Sergio Spina
Som, 50’
Coleção da Fondazione Archivio Audiovisivo Del Movimento Operaio E Democratico – AAMOD, Roma

MONITOR:
Missão Antropológica da Guiné, 1958
Realizador desconhecido
Sem som, 8’
Universidade de Lisboa / Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Coleção Filmes / Instituto de Investigação Científica Tropical, depositada na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Lisboa

Percurso de Uma Família na Visita à Exposição do Mundo Português, 1940
Filme de família
Sem som, 10’ (excerto)
Coleção da família de Luís Nunes dos Santos depositada no Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca (projecto TRAÇA), Lisboa