Foi com Homes, em 2018, que fixámos o seu nome na memória, mas teríamos de esperar até 2023 para que um segundo álbum de Shida Shahabi confirmasse todas as suspeitas e desejos: Living Circle abriu um mundo imenso de música e, acima de tudo, um espectro raro de emoções e sentimentos, onde uma narrativa clássica é mergulhada em trepidações experimentais, com ideias acústicas em harmonia com eletrónica, drones e paisagens abstratas. Entre a racionalidade e a emoção, Shida Shahabi não exerce escolha, dizendo-nos que “precisamos de ambas para fruir da arte”. Porque nada acontece por acaso: nascida em Estocolmo, descendente de família iraniana, o seu crescimento foi nutrido entre pop persa dos anos de 1970 e cânones clássicos, dando-lhe os extremos de tudo aquilo que podia ser a música para si, mas confessa que foi a alegria de cantar e ouvir música com os pais que criaram a sua relação com a arte musical. Talvez seja esta conexão que vive nas suas composições que a faz ser igualmente uma dotada artesã de música para cinema, dança ou teatro; talvez seja este contágio que nos deixa com a obra-prima que nos traz.