Este evento já decorreu.
SOOPA - Plataforma de Criação
SOOPA - Plataforma de Criação
Fundada em 1999 no Porto, a SOOPA é uma plataforma de criação internacional, organizada em torno de um grupo de artistas e pensadores. Um laboratório de música, artes visuais e performance, nas suas atividades cabem a produção, lançamento de música, publicações, a promoção de concertos, conferências, a criação de peças cénicas e cinematográficas, num contínuo e multifacetado processo de pesquisa.
Neste encontro, Jonathan Saldanha e Filipe Silva abrem o seu arquivo de vídeos, fotografias, sons e textos para contar a história dos 15 anos de programação e criação regular na cidade do Porto, num trabalho que se expande para fora do seu território habitual.
19 NOV 2019
TER 18:30
Entrada gratuita*
Duração 90 min
* Sujeita à lotação e mediante levantamento de bilhete no próprio dia a partir das 9:30
Mais informações aqui
Programa Campos de Colaboração
DIA 1 — 19 NOV, TER
10h00-10h35
Registo
10h30-10h50
Boas-vindas
10h50 -11h50
Dispara o teu imaginário!
Keynote Speakers: Catherine Quéloz e Liliane Schneiter (EN)
(HEAD/Research Platform and Doctoral Practice In Arts – Genebra, Suíça)
Moderadora: Raquel Ermida
A reinvenção da noção de partilha nos processos colaborativos é ativada pelo imaginário das artes e das ciências. As diferentes formas de colaboração implicam uma atenção ao outro (humano e não-humano) a fim de estabelecer ligações e criar refúgios. Elas questionam práticas instituídas experimentando outras formas de instituir, e reforçando assim a noção de democracia. O comum emerge no processo de colaboração, oferecendo uma perspetiva sobre como viver uma “vida boa”, com uma consciência apurada da cooperação entre ecofeminismo, decrescimento, convivialidade, simplicidade voluntária, colaboração multiespécies, entre outros. Num mundo complexo e ferido, é necessário tecer ligações para que o fio não se quebre.
11h50-12h10
Coffee Break
12h10-13h30
MESA 1 — Construindo o Comum (ENG)
Moderador: Rui Matoso
Mudanças de Regime
Alexandra do Carmo
The Mill Stories, administração como prática artística
Carla Cruz
Community Making rumo à agência situada
Jenny Dunn
Convocando questões prementes como o desaparecimento do espaço público, a gentrificação e a austeridade no financiamento da cultura, este painel reúne três estudos de caso sobre coletivos ativistas e centros comunitários que procuram alternativas para o fazer comum nas cidades, através de um trabalho conjunto com aqueles que as habitam.
13h30-15h00
Pausa para almoço
15h00-16h20
MESA 2 — Abordagens feministas nos processos colaborativos
Moderadora: Giulia Lamoni
Mapeando a genealogia do pensamento coletivo e impulsionado pela arte na história do neo-feminismo italiano (EN)
Camilla Paolino
Girlschool: processo e prática (PT)
Alice Geirinhas e Susana Mendes Silva
Revisitando Rua dos anjos: um gesto de criação textual partilhada e meta-interpretativa a partir da criação partilhada em cinema (PT)
Madalena Lobo Antunes e Renata Ferraz
Nesta mesa será analisada a atividade de projetos artísticos e coletivos políticos formados exclusiva ou maioritariamente por mulheres, de um ponto de vista histórico e prático, a fim de se convocarem as problemáticas de género dentro do âmbito colaborativo.
16h20-16h40
Pausa
16h40-18h00
MESA 3 — Questionando noções de autoria
Moderadora: Susana Nascimento Duarte
Musa paradisiaca e Art & Language, práticas enquanto relação (PT)
Miguel Ferrão
Intercessores, Autores e Fabulação no Cinema (PT)
Susana Viegas
Autoria em movimento na era digital: como a arte baseada em inteligência artificial está a desafiar a nossa atitude face à autoria coletiva (EN)
Sarah Fassio
Esta mesa procurará explorar o modo como o exercício de criação coletiva pode desconstruir, invalidar ou refazer os conceitos de autor, autoria e autoral.
18h00-18h30
Coffee Break
18h30-20h00
Keynote Speakers: SOOPA (PT)
Moderadora: Maria Mire
Um arquivo de vídeos, fotografias, sons e textos revela as relações cosmológicas de concertos e performances, numa sequência assimétrica de formatos que comenta a partir da periferia o trabalho desenvolvido pelo coletivo SOOPA. A partir da reconstrução dos vetores fundamentais que alimentaram a programação e criação regular na cidade do Porto, atravessaram-se 20 anos de espaços e contextos, partindo da porosidade de influências e discursos para um fluxo de trabalho que se expande para fora da sua gestação local.
DIA 2
20 NOV, QUA
10h00-10h30
Registo
10h30-11h50
Mesa Redonda: A colaboração na arte portuguesa (PT)
Moderador: Samuel Silva
Convidados: António Olaio (Colégio das Artes, Coimbra), José Maia (FLP), Rita Fabiana (Fundação Calouste Gulbenkian), Sandra Vieira Jürgens (IHA - FCSH)
Considerando a forte expressão dos processos de coletivização das práticas artísticas no panorama nacional, esta mesa procurará refletir, num primeiro momento, sobre o contributo deixado pelos grupos/projetos colaborativos surgidos a partir dos anos 60 no desenvolvimento, em contexto de ditadura, de “modelos coletivos de produção, de autogestão e difusão de arte singulares” (JÜRGENS, 2016, p. 235), num gesto eminentemente político e de resistência. O painel discutirá ainda os diferentes formatos de colaboração surgidos já em contexto de democracia até ao presente, através dos quais se articulam aspetos como a informalidade, o cruzamento disciplinar, a construção de comunidade artística e o reforço de uma ideia de independência.
11h50 -12h10
Coffee Break
12h10-13h30
MESA 4 — Experimentação no contexto artístico português: dos anos 60 ao presente (PT)
Moderadora: Mariana Pinto dos Santos
Reconstruir uma identidade de escola de belas-artes baseada em diálogos artísticos e colaboração com seus atores – o Porto e a ESBAP nas décadas de 1960 e 1970.
Eliana Santiago, Jorge Pereira e Susana Barreto
Só o entusiasmo é que conta…pesquisa, experimentação e colaboração em Almada, Um Nome de Guerra, de Ernesto de Sousa
Mariana Gaspar
Práticas Artísticas Colaborativas – Práticas Puzzle, jogo de encaixe ou jogo de encontro?
Sílvia Pinto Coelho
Partindo da análise de processos colaborativos no contexto artístico português das décadas de 60 e 70, este painel lança um olhar sobre as potencialidades que estes oferecem para pensar a colaboração no seu contexto histórico e na atualidade, em áreas como o ensino artístico e a criação plástica e coreográfica.
13h30-15h00
Almoço
15h00-16h20
Mesa 5 — Intervindo no espaço público (PT)
Moderadora: Margarida Brito Alves
A síntese das artes, um modelo de colaboração
Sónia Moura
“Grupo Acre Fez” - um coletivo em ação de 1974 a 1977
Patrícia Rosas
São Paulo 1970/80: o binômio “arte coletiva e ocupação das ruas”
Jorge Bassani
Nesta mesa pretende-se refletir sobre o modo como as práticas artísticas colaborativas transformam dinâmicas sociais, sustentam ou questionam modelos políticos e alteram a experiência estética da cidade.
16h20-16h40
Pausa
16h40-18h00
MESA 6 — Tensões e disputas nas estruturas de produção e criação cultural (PT)
Moderadora: Cláudia Madeira
Criação e Produção: anatomia de uma relação
Vânia Rodrigues
Apontamentos de trabalho sobre ‘mediação’ como processo de resolução- colaborativa nas disputas em práticas de arte colaborativa
Rui Cepeda
A curta vida do coletivo de artistas Lisbon Codance
Ana Corrêa e Sezen Tonguz
Este painel centra-se nas dinâmicas, desafios e estratégias de resolução de conflitos que emergem no seio de coletivos e estruturas de produção cultural, no âmbito das artes performativas e de processos de criação em parceria com a comunidade.
18h00-18h30
Coffee Break
18h30-20h00
Keynote Speaker: Francisca Caporali (JA.CA - Belo Horizonte, Brasil) (PT)
Moderador: Tobi Maier
Francisca Caporali, fundadora e coordenadora artística do coletivo JA.CA, apresenta uma leitura dos dez anos do projeto, partindo da construção da sua sede própria em terreno não próprio. Um projeto que resulta de experimentações em dois eixos: 1) Atividade de Formação e Educação em Artes - realização de projetos envolvendo a estadia de artistas e investigadores no JA.CA, assim como encontros e colaborações com artistas, estudantes e a comunidade envolvente; 2) Reinvenções para existência - estratégias de gestão - projetos de fomento e debate crítico sobre políticas públicas para a continuidade de iniciativas artísticas independentes, que envolvem tanto a investigação de técnicas de reaproveitamento de materiais e processos construtivos, quanto o fortalecimento de redes com outros espaços autónomos.
Biografias e sinopses Campos de Colaboração
KEYNOTE SPEAKERS
Dia 1 | 19 NOV | 10h50-11h50 | Moderadora: Raquel Ermida
Dispara o teu imaginário!
A reinvenção da noção de partilha nos processos colaborativos é ativada pelo imaginário das artes e das ciências. As diferentes formas de colaboração implicam uma atenção ao outro (humano e não-humano) a fim a estabelecer ligações e criar refúgios. Elas questionam práticas instituídas experimentando outras formas de instituir, e reforçando assim a noção de democracia. O comum emerge no processo de colaboração, oferecendo uma perspetiva sobre como viver uma “vida boa”, numa consciência apurada sobre a cooperação entre ecofeminismo, decrescimento, convivialidade, simplicidade voluntária, colaboração multiespécies, entre outros. Num mundo complexo e ferido, é necessário tecer ligações para que o fio/linha não se quebre.
Catherine Quéloz
Historiadora de arte, investigando sobre a transformação das práticas artísticas situadas, as histórias “menores”, os efeitos da história social e das teorias de gênero e pós-coloniais sobre a arte e a escrita cultural da história. Cofundadora, juntamente com Liliane Schneiter, do programa de Mestrado de investigação CCC e do seminário de Pré-doutoramento/PhD na Haute école d’art et de design, em Genebra (2000-2015). Professora honorária HES-SO (Haute École Spécialisée de Suisse Occidentale), Quéloz é consultora em investigações sobre culturas emergentes e sobre a economia da educação. Orienta igualmente inúmeras investigações de doutoramento em práticas artísticas. É membro da RPDP-A (Plataforma de investigação e prática doutoral em artes), uma ONG da investigação em artes. Catherine Quéloz recebeu em 2014 o prémio de arte suíço Méret Oppenheim.
Liliane Schneiter
Historiadora de arte medieval e moderna e professora HES-SO (Haute École Spécialisée de Suisse Occidentale). Ensinou em várias instituições, universidades e espaços alternativos. Os seus campos de investigação são: a teoria crítica da história (Walter Benjamin, Escola de Frankfurt, as transformações contemporâneas da soberania), a história moral e política inscrita na filosofia continental e anglo-saxónica e o potencial da arte em rede na ação cívica. Cofundadora, juntamente com Catherine Quéloz, do Programa de Mestrado CCC (Estudos críticos, curatoriais e de cybermedia) e do seminário de Pré-doutoramento/PhD na Haute école d’art et de design, em Genebra (2000-2015). É consultora em investigações sobre culturas emergentes e a economia da educação. É membro da Plataforma de investigação e prática doutoral (RPDP-A), uma ONG da investigação em artes.
Dia 1 | 19 NOV | 18h30-20h00 | Moderadora: Maria Mire
SOOPA
Um arquivo de vídeos, fotografias, sons e textos revela as relações cosmológicas de concertos e performances numa sequência assimétrica de formatos que comenta a partir da periferia o trabalho desenvolvido pelo coletivo SOOPA. A partir da reconstrução dos vetores fundamentais que alimentaram a programação e criação regulares na cidade do Porto, atravessaram-se 20 anos de espaços e contextos, partindo da porosidade de influências e discursos para um fluxo de trabalho que se expande para fora da sua gestação local.
Uma plataforma internacional de arte e música proteiforme, multicefálica, orientada em torno de um coletivo de artistas e pensadores; um laboratório de som, visual e performance com uma atividade de longa data, com base no Porto. SOOPA trabalha nos campos da autopoiese, da ficção científica caseira, das culturas tradicionais fabricadas, do mapeamento de territórios invisíveis, da selva interior, do animismo radiomagnético e do grande caos. As atividades da SOOPA incluem a produção e lançamento de música e publicações, promoção de concertos e conferências, e criação de peças cénicas e cinematográficas. Fundada em 1999 por Jonathan Saldanha, a SOOPA conta com: Catarina Miranda, Dayana Lucas, Diogo Tudela, Filipe Silva, Benjamin Brejon, Frédéric Alstadt, João Pais Filipe e Nicolas Esterle.
Dia 2 | 20 NOV | 18h30-20h00
FRANCISCA CAPORALI | JA.CA - CENTRO DE ARTE E TECNOLOGIA
Francisca Caporali, fundadora e coordenadora artística do coletivo JA.CA, apresenta uma leitura dos dez anos do projeto, partindo da construção da sua sede própria em terreno não próprio. Um projeto que resulta de experimentações em dois eixos: 1) Atividade de Formação e Educação em Artes - Realização de projetos envolvendo a estadia de artistas e investigadores no JA.CA, assim como encontros e colaborações com artistas e estudantes e a comunidade envolvente; 2) Reinvenções para existência - estratégias de gestão - Projetos de fomento e debate crítico sobre políticas públicas para a continuidade de iniciativas artísticas independentes, que envolvem tanto a investigação de técnicas de reaproveitamento de materiais e processos construtivos, quanto o fortalecimento de redes com outros espaços autónomos.
JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia
Realiza pesquisas, projetos e experimentações artísticas no seu espaço, no Jardim Canadá, bairro de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e noutras localidades e instituições parceiras. A iniciativa começou em 2010 com um projeto de residências artísticas internacionais, tendo sido consolidada e constituída formalmente como associação civil sem fins lucrativos, com objetivos de promoção e disseminação da cultura e da arte, em 2013. Atualmente, além de se dedicar às dinâmicas do Jardim Canadá, o JA.CA realiza o Programa Educativo das quatro sedes do Centro Cultural Banco do Brasil e o Bolsa Pampulha, em parceria com a Fundação Municipal de Cultura e o Museu da Pampulha.
MESA REDONDA
Dia 2 | 20 NOV | 10h30-11h50 | Moderador: Samuel Silva
A colaboração na arte portuguesa
Conversa com os convidados António Olaio, José Maia, Rita Fabiana e Sandra Vieira Jürgens.
António Olaio
Artista plástico, professor auxiliar de nomeação definitiva do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Diretor do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra e com exposições individuais em Coimbra, Lisboa, Porto, Guimarães, Mallorca, Nova Iorque, Berlim, Frankfurt. Enquanto investigador explora as potencialidades conceptuais da arte enquanto objeto e instrumento de reflexão, nomeadamente nas relações entre o indivíduo e o espaço, entre a experiência plástica e a arquitetura. Das suas publicações são de salientar os livros "I think differently, now that I can paint" que desvenda a latitude da sua intervenção conceptual enquanto artista plástico e "Ser um indivíduo chez Marcel Duchamp" que, através da obra deste artista, sublinha a obra de arte enquanto produção de pensamento.
José Maia (curador) / Manuel Santos Maia (artista)
Nasceu em Nampula, Moçambique. Vive e trabalha no Porto. Licenciado em Artes plásticas – pintura pela Faculdade de Belas Artes da U.Porto. Expõe regularmente desde 1999. Organizou e coorganizou exposições individuais e coletivas em diversas cidades do país. Desde 1998 tem organizado debates, conversas e conferências com criadores de diferentes áreas artísticas, curadores, artistas-comissários, críticos e historiadores.
Rita Fabiana
Mestre em História da Arte pela Université Paris I – Panthéon- Sorbonne e pós-graduada em Curadoria e Organização de Exposições pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Coordenadora de Programação do Museu Calouste Gulbenkian desde 2016. Curadora desde 2006, desenvolveu projetos com artistas nacionais e internacionais como Zineb Sedira (em curso), Yto Barrada, Ana Jotta e Ricardo Valentim, Emily Wardill, Ricardo Jacinto, André Guedes, Leonor Antunes e A kills B, entre outros. Curadora da retrospetiva de José Escada, cocuradora das retrospetivas de António Ole e Túlia Saldanha e curadora executiva do projeto Plegaria Muda de Doris Salcedo. Contribuiu em vários catálogos e colaborou em revistas de arte como a Contemporânea e OEI (Estocolmo), entre outras. Colaborou nos seminários de Curadoria e Organização de Exposições (Universidade de Coimbra) e em 2018 colaborou com a Malmo Art Academy como avaliadora externa dos projetos dos finalistas do MFA.
Sandra Vieira Jürgens
Investigadora de pós-doutoramento, bolseira FCT no Instituto de História da Arte (IHA-FCSH, Universidade NOVA de Lisboa), desde 2015. É atualmente professora e coordenadora da Pós-Graduação em Curadoria de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Dirige a revista online Wrong Wrong e a plataforma digital raum: residências artísticas online, projetos da Terceiro Direito - Associação Cultural. É autora do livro Instalações Provisórias: Independência, autonomia, alternativa e informalidade. Artistas e exposições em Portugal no século XX (2016). Concebeu, dirigiu e editou a Artecapital, publicação online especializada em arte contemporânea (2006-2013). Foi editora da Número Magazine (2001) e da revista Artes & Leilões (2007-2010). Coordenou a comunicação nacional e internacional das representações oficiais portuguesas na Bienal de Veneza e na Bienal de São Paulo, nas áreas da arte e da arquitetura (2008-2010), na Direção-Geral das Artes/Ministério da Cultura.
MESAS
Mesa 1 | Dia 1 | 19 NOV | 12H10-13H30 | Moderador: Rui Matoso
Construindo o comum
onvocando questões prementes como o desaparecimento do espaço público, a gentrificação e a austeridade no financiamento da cultura, este painel reúne três estudos de caso sobre coletivos ativistas e centros comunitários que procuram alternativas para o fazer comum nas cidades, através de um trabalho conjunto com aqueles que as habitam.
Mudanças de Regime
Alexandra do Carmo (alexandradocarmo@gmail.com)
IHA, FCSH-NOVA
A minha reflexão sobre o coletivo Not an Alternative (NAA), enquadra-se no presente debate sobre a natureza da arte de caráter social, a constante reavaliação dos seus modos autorais e um desejo de melhor dar a compreender os artistas pertencentes a uma terceira geração da crítica institucional.
Os NAA têm vindo a investigar, debater e implementar projetos desde 2004, “um núcleo de experimentação, investigação especializada e de um estabelecer de relações entre artistas e organizadores, particularmente os que estão envolvidos nas lutas pela posse de terra, habitação, gentrificação e despejos. Enfatizando indicadores simbólicos, os quais podem ser partilhados em diferentes lutas e locais.” (McKee, 2016).
O seu projeto de 2009 em colaboração com a organização Picture the Homeless, distinguiu-se pela implementação plena de uma prática artística que se estende pela trama social - com o objetivo de expor de modo crítico a severa crise habitacional despoletada pelo sistema bancário capitalista, e que resultou numa progressiva execução hipotecária na cidade de Nova Iorque. Em 2014, inspirados pelas ações da Liberate Tate, os NAA deram início ao projeto, The Natural History Museum, uma instituição paralela, e crítica da história e ideologia dos museus de história natural, a qual se apresenta sob a forma de exposições, painéis de debate e eventos, um apparatus móvel abordando problemas ambientais.
Os NAA recrutaram as suas audiências e a comunidade científica, esforçando-se para progressivamente dar voz a um desejo público latente: mudar o modo como estas instituições caracterizam e guiam gerações no que respeita ao envolvimento humano na crise ambiental pela qual estamos a passar.
Este artigo centra-se nas metodologias de colaboração dos NAA, investigando a possibilidade da sua arte se afirmar como parte integrante da mesma interação política e social com a qual interage e ajuda a revelar.
Alexandra do Carmo (1966)
Frequenta o doutoramento em Estudos Artísticos Arte e Mediações, na FCSH-Nova, IHA. Estudou no Whitney Museum Independent Study Program, Nova Iorque; Pratt institute, Ar.Co, Lisboa. Projetos mais relevantes: O Ateliê Verde no IC19 2018, Sismógrafo, Porto, Studio Socialis 2014, Galeria Carlos Carvalho (GCC), Lisboa, Tudo foi captado (mesmo os movimentos do cabrito), 2011, Galeria Quadrum, Lisboa, Office/Commercial 2008 GCC; A Willow (Or without Godot), 2006, Irish Museum of Modern Art.
A sua prática artística centra-se no ateliê como campo conceptual de estudo; um filtro através do qual e com o qual investiga a interdependência entre o/a artista e o espaço público, revelando as dinâmicas, condições e limites autorais. A sua área teórica de investigação é o conceito de Autonomia Artística de Uso Público nas práticas de caráter social, nos Estados Unidos da América, nos últimos vinte anos.
The Mill Stories, administração como prática artística
Carla Cruz (carlabarroscruz@gmail.com)
i2ADS/FBAUP
Entre fevereiro e junho de 2016 estive envolvida, enquanto investigadora associada, à Goldsmiths University of London e financiada pelo Cultural Engagement Fund do Arts and Humanities Research Council – UK, no projeto comunitário The Mill. Durante este período, investiguei a génese do The Mill e o impacto que este centro comunitário independente tem na comunidade em termos de receção e produção de arte e cultura na localidade do norte de Londres, Walthamstow. A minha pesquisa passou igualmente pela análise da ligação das recentes políticas de austeridade e o financiamento das artes e cultura no Reino Unido.
O The Mill é um centro comunitário que surgiu por iniciativa local na sequência da organização de uma campanha para salvar uma biblioteca pública quando esta se tornou financeiramente inviável. Apesar de 4 anos de campanha pela comunidade, o município colocou o edifício em hasta pública. Nessa altura, a população e ativistas locais mobilizaram-se e asseguraram o uso do edifício para fins comunitários, surgindo assim, em 2011, o The Mill. De forma a trazer à luz uma imagem mais completa da história do The Mill, entrevistei ativistas, voluntários e funcionários e usuários, o que resultou num website, na publicação de um artigo científico e numa colaboração mais aprofundada com o centro comunitário e integração como membro dos órgãos da direção.
Para o Fields of Collaboration, gostaria de apresentar um poster relacionado com esta experiência “How to do community inspired art?”, e falar sobre o meu papel enquanto artista e investigadora no seio de um centro comunitário, a potencialidade e os limites da minha posição, e a invisibilidade da minha prática artística nesse contexto.
Carla Cruz
Artista, investigadora e professora universitária (FBAUP / ESAD), residente no Porto. Doutorada em práticas artísticas pela Goldsmiths University of London, com o apoio da FCT. Em 2016, foi-lhe atribuída a bolsa de Investigadora Associada pela AHRC Cultural Engagement fund, tendo como foco o centro comunitário londrino, The Mill. Desenvolve, desde 2011, o projeto Finding Money com Antonio Contador, e coordena, desde 2007, com Ângelo Ferreira de Sousa a Associação de Amigos da Praça do Anjo. Carla foi cofundadora do coletivo feminista de intervenção artística ZOiNA (1999-2004), e da Associação Caldeira 213 (1999-2002); entre 2005 e 2013 coordenou o projeto expositivo feminista All My Independent Wo/men.
Community Making rumo à agência situada
Jenny Dunn (jennyrdunn@gmail.com)
University of Nicosia
Community Making é um projeto desenvolvido em resposta a, e em colaboração com, a comunidade do Dorset Estate em East London, explorando as experiências vividas dos residentes daquela área através de um programa cultural de intervenções e eventos. Nesta comunicação, irei apresentar o projeto que envolveu a criação coletiva do “CTRA Cart”, um centro comunitário desconstruído, que tomou a forma de uma banca móvel, construída com a Columbia Tenants and Residents Association. Agindo enquanto ponto focal e oferecendo serviços, a banca permitiu a realização de um programa de eventos, que decorreu no verão, e ocupou o espaço através de práticas do comum [commoning], como cozinha em conjunto, debates sobre História, jardinagem, atividades artísticas e trocas culturais. Estes eventos foram um campo de teste para aquilo que poderia acontecer nas áreas verdes comuns do bairro, trazendo a vida do bairro para os seus espaços públicos.
Irei discutir o contexto social mais alargado do projeto, e as questões políticas dentro da comunidade e a minha experiência enquanto artista e residente do bairro, desenvolvendo uma relação de confiança com os outros residentes, de modo a alcançar algo em comum.
Este tipo de prática procura fomentar ligações, viagens partilhadas e, em última análise, sentimentos de comunidade e de pertença. Contudo, as suas estratégias e métodos têm ainda o potencial de criar um novo sistema de trabalho em conjunto, assim como hierarquias planas, conceções de propriedade e de autoria partilhadas e autonomia local, tornando-se num modelo para a sociedade num sentido mais lato.
Jenny Dunn
É artista e designer de espaços, trabalhando colaborativamente com comunidades para criar realidades alternativas, onde possam ser praticadas formas mais democráticas, ecológicas e criativas de trabalhar. Concluiu uma Licenciatura na Manchester School of Art em 2010 (BA – hons) em Interior Architecture e trabalhou durante oito anos em design e arquitetura, antes de completar um Mestrado em Art and Social Practice, em 2018. Atualmente, é professora e trabalha no projeto Phygital na University of Nicosia, no Chipre, desenvolvendo makerspaces com comunidades locais, utilizando princípios open-source.
Mesa 2 | Dia 1 | 19 NOV | 15h00-16h20 | Moderadora: Giulia Lamoni
Abordagens feministas nos processos colaborativos
Nesta mesa será analisada a atividade de projetos artísticos e coletivos políticos formados exclusiva ou maioritariamente por mulheres, de um ponto de vista histórico e prático, a fim de evocar as problemáticas de género dentro do âmbito colaborativo.
Mapeando a genealogia do pensamento coletivo e impulsionado pela arte na história do neo-feminismo italiano
Camila Paolino (camilla.paolino@gmail.com)
CCC Master Program / HEAD-Genève
Em outubro de 2018, em conjunto com um grupo de artistas e investigadores em arte, iniciei o b-side feminism: a transcription marathon, um projeto de investigação colaborativo e centrado na prática que explorou um conjunto de arquivos de áudio do grupo Rivolta Femminile (RF), através de operações de escuta radical e de transcrição coletiva. RF foi um grupo neofeminista radical fundado em Roma em 1970 por Carla Accardi, Elvira Banotti e Carla Lonzi. O arquivo contém cassetes de áudio gravadas entre 1970 e 1972 pelas integrantes do grupo RF enquanto praticavam juntas a autocoscienza, e constitui o tema da nossa “maratona” de transcrição coletiva, realizada pelo nosso grupo transversal, transnacional e transgeracional de mulherxs. Este projeto permitiu-nos mapear a genealogia da abordagem colaborativa e da postura coletiva dentro da história do neo-feminismo italiano, trazendo à luz e refletindo acerca do legado dos sujeitos feministas coletivos que emergiam contra o contexto sociocultural e artístico da década de 1970, ainda dominado por homens.
Focando-se no contexto romano, esta comunicação irá explorar as práticas, estratégias e metodologias de três coletivos neofeministas que integraram um número considerável de artistas dentro dos seus organismos e cujas ações visavam o mundo da arte: Rivolta Femminile; Cooperativa di via del Beato Angelico; Collettivo di via Pompeo Magno. Esta comunicação investigará uma série de estratégias políticas e visuais implementadas por estes organismos exclusivamente constituídos por mulheres, desde a forma como empregavam a tipografia de modo a desfazer a Autoria individual (e, consequentemente, a Autoridade, mas também as hierarquias e, em última análise, o Poder), até à ocupação de espaços de arte e de galerias, ou à forma como a prática dialógica coletiva da autocoscienza foi empregue para gerar conteúdo para a produção artística. O objetivo desta comunicação é também questionar o significado e os limites da abordagem coletiva dentro das práticas e políticas feministas atuais, e imaginar estratégias para superar ou fugir ao sistema binário de inclusão/exclusão que o formato de grupo implica – principalmente no contexto das lutas identitárias.
Camilla Paolino
Está sediada em Genebra, onde trabalha enquanto investigadora e curadora desde 2014. Em 2016, concluiu o CCC Research-based Master Program (HEAD-Genève), onde trabalha atualmente enquanto assistente e investigadora. Em 2015, coiniciou o espaço artístico independente TOPIC, em conjunto com o coletivo you know who e, desde 2017, codirige o artist-run space one gee in fog. Em 2018, integrou a equipa curatorial da PLTAFFORM, e iniciou o projeto de investigação centrado na prática b-side feminism. a transcription marathon. Camilla Paolino já participou em projetos curatoriais na Suíça, assim como em Bucareste, Atenas, Detroit e Jacarta.
Girlschool: processo e prática
Alice Geirinhas (gxalice@gmail.com)
Universidade de Coimbra, CiEBA e i2ADS
Susana Mendes Silva (sms@uevora.pt)
Universidade de Évora, i2ADS
A Girlschool é um projeto de aulas performativas sobre temas ligados à arte e à sexualidade, criado pela dupla de artistas Alice Geirinhas e Susana Mendes Silva, em 2016. Desde então, já apresentaram as suas aulas no âmbito de várias exposições e festivais, e utilizando vários media. Como afirma a Susana em Processo Girlschool, a Girlschool "é um espaço de liberdade: uma escola «sobre o belo» — como lhe chamou a Alice um dia — sem propinas nem créditos, um espaço inclusivo e igualitário".
Dado que cada uma tem uma prática artística autónoma, gostaríamos de explorar o que as liga, como operam enquanto coletivo, como estabelecem uma prática artística colaborativa com as/os participantes, quais são as suas preocupações éticas e políticas ao desenvolverem este projeto, e como o facto de serem docentes influi no modo de orientarem esta escola muito particular.
A apresentação será no modelo de conferência performativa, na qual as duas artistas estarão em palco, e através de uma estrutura conversacional serão colocadas uma série de questões — pré-gravadas por nós — que permitirá revelarem o seu processo de trabalho em coautoria.
Alice Geirinhas
É artista plástica e professora auxiliar do curso de Design e Multimédia da FCTUC.
Estudou Escultura na FBAUL, mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas da FBAUP e doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra com a tese Como Eu Sou Assim, Mapeamento Visual na Primeira Pessoa: Documento e Índice, sobre autobiografia visual e a sua prática artística que inter-relaciona o pensamento feminista, desenho e narratividade em diversos media.
O seu trabalho gráfico está publicado em vários livros: Alice (1999), A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer (2003), The Cabinet of dr Alice (2014),Visual Manifesto (2016), Inland #7 (2019).
Susana Mendes Silva
É artista plástica, performer e professora auxiliar no curso de Arquitetura Paisagista na Universidade de Évora. Estudou Escultura na FBAUL e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É Doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com a tese baseada na sua prática performativa – “A performance enquanto encontro íntimo”.
O seu trabalho integra uma componente de investigação e de prática arquivística, que se traduz em obras cujas referências históricas e políticas se materializam em exposições, ações e performances através dos mais diversos meios de produção.
Revisitando Rua dos anjos: um gesto de criação textual conjunta e meta-interpretativa a partir da construção partilhada em cinema
Madalena Lobo Antunes (mlobo.antunes@gmail.com)
CRIA-FCSH-UNL
Renata Ferraz (renataferraz.info@gmail.com)
CAPES - Brasil/ CIEBA-FBAUL-Universidade de Lisboa
Esta comunicação, escrita a duas mãos, é a continuação de um diálogo sobre um objeto fílmico criado a partir de uma experiência de uma das autoras com uma terceira pessoa. O filme, realizado por Renata Ferraz e Maria Roxo, é um objeto visual fruto da experiência de criação partilhada em cinema, entre duas mulheres de contextos muito diferentes. Depois de participar num filme, enquanto atriz, representando o papel de uma trabalhadora sexual, a realizadora Renata Ferraz começa a interessar-se pela experiência dessas mulheres, desenvolvendo uma vontade de fazer um filme com uma delas. Falamos de duas mulheres, que farão um filme juntas; uma delas realizadora, brasileira atriz e investigadora de doutoramento; outra uma trabalhadora sexual de outra geração, com um percurso de vida entre Moçambique e Portugal, e uma história, primeiro de privilégio e depois de privação.
O primeiro diálogo, entre Renata e Maria, é o de criação de um filme que expõe o seu processo. O segundo diálogo é que o aconteceu quando Renata Ferraz e Madalena Lobo Antunes falaram sobre as soluções que a etnografia teria para a experiência de criação partilhada. De facto, o método etnográfico e, em particular, o filme etnográfico almejam algo semelhante ao que Renata procurava. A experiência de partilha com Maria levou Renata a repensar a moldura teórica para o diálogo das duas: Maria trazia consigo a sua história de vida e vontade de contá-la, tendo esse gesto sido determinante para o rumo do filme. Renata e Madalena retomam a reflexão sobre o filme, agora pensando a questão do contexto de cada uma das realizadoras-personagens. Este segundo diálogo parte do primeiro, inclui a experiência de Renata e Maria, mas traz também a reflexão teórica de Madalena, a partir do documentário e do filme etnográfico, presentes no cinema de Jean Rouch, e nos textos de David Macdougall (Macdougall 2006), entre outros, reflexões já tratadas na componente textual da investigação de doutoramento de Renata, e retomadas por Madalena num texto de perspetiva antropológica, no qual são acrescentadas as propostas sobre práticas artísticas feitas por cientistas sociais como Rothenberg e Fine (2008) e Schneider e Wright (2014), e que, auxiliados pelos críticos e historiadores de arte, como Borriaud (2006) e Bishop (2012), identificam um interesse crescente dos artistas ocidentais pelo conhecimento e experiência do outro culturalmente distante.
Madalena Lobo Antunes
É investigadora no CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia – FCSH/NOVA). Doutorada em Literatura Portuguesa, com uma bolsa de doutoramento da FCT, defendeu recentemente a sua tese com o título «De tanto pensar-me»: a consciência no Livro de Desassossego de Fernando Pessoa, é também membro do projeto “Estranhar Pessoa: um escrutínio das pretensões heteronímicas”. Tem publicado sobre o papel do espaço urbano na literatura do modernismo europeu e tem também abordado o papel social da literatura, por exemplo, lendo o Livro do Desassossego à luz da teoria de Marx. Mais recentemente, encontra-se a frequentar o Mestrado em Antropologia na FCSH, com um projeto sobre o valor simbólico da obra de arte.
Renata Ferraz
Investigadora académica-cineasta-atriz. Renata Ferraz é doutorada em Artes (Performativas e da Imagem em Movimento) pela Universidade de Lisboa. A sua investigação de doutoramento foi financiada pela CAPES (Brasil) e sua tese é intitulada: Criação fílmica partilhada entre um personagem que realiza e uma realizadora que atua: o processo de construção da Rua dos anjos. É mestre em Arte Multimédia - Audiovisual (FBAUL) e licenciada em Artes do Espetáculo (IA - UNESP). Nos últimos anos, escreveu artigos para revistas científicas e capítulos de livros nas áreas de cinema, multimédia e artes performativas. Conjuntamente, tem produzido filmes em parceria com artistas e, também, com pessoas que não pertencem ao campo das artes. Atualmente é membro filiada do CIEBA - Centro de Investigação em Belas Artes, (Universidade de Lisboa) e do LabCom.IFP - (Universidade da Beira Interior) e está a finalizar a longa-metragem Rua dos anjos, com financiamento do ICA.
Mesa 3 | Dia 1 | 19 NOV | 16h40-18h00 | Moderadora: Susana Nascimento Duarte
Questionando noções de autoria
Esta mesa procurará explorar o modo como o exercício de criação coletiva pode desconstruir, invalidar ou refazer os conceitos de autor, autoria e autoral.
Musa paradisiaca e Art & Language, práticas enquanto relação
Miguel Ferrão (miguelnogueiraferrao@gmail.com)
IFILNOVA FCSH/NOVA
Musa paradisíaca e Art & Language são dois projetos artísticos coletivos que, desde as suas fundações (2010 e 1968, respetivamente), se desenvolvem através de práticas colaborativas associadas às noções de conversação e de polivocalidade. Este diálogo permanente é operado por todos os agentes envolvidos em ambos os projetos, incluindo os artistas que os representam, os convidados que os integram e os objetos físicos, teóricos, imagéticos ou linguísticos produzidos no contexto das suas práticas artísticas. A sua configuração plural, variável e sempre incompleta promove uma redefinição constante baseada na autodescrição, processo realizado com e através de outros. Para a formulação deste princípio de alteridade contribui ainda o caráter performativo que, em diferentes escalas, meios e formatos, se manifesta em ambos os projetos, particularmente aquando das apresentações públicas sob a forma de instalações teóricas, no caso dos Art & Language, ou na série de podcasts de Musa paradisiaca, disponibilizados online (“Números”). No primeiro caso, um conjunto de atores convidados apresentam as palavras de Mel Ramsden e Michael Baldwin (atuais representantes do coletivo Art & Language), como se deles próprios se tratassem, através de um sistema de reprodução áudio e mimetização labial simultânea. No segundo, a construção de guiões a partir da reescrita de conversas previamente transcritas, sob a forma de diálogos ou monólogos, reúne, noutra/s voz/es, as palavras ditas na presença ou com a participação de Eduardo Guerra e Miguel Ferrão, representantes de Musa paradisiaca. Neste contexto, propõe-se questionar a natureza desta configuração autodescritiva, auscultando o paradigma relacional nela incorporado e discutindo as suas implicações para os limites ontológicos das duas práticas artísticas contemporâneas aqui consideradas.
Miguel Ferrão
Licenciado em Pintura pela FBAUL, é mestre em Filosofia-Estética pela FCSH-UNL e doutorando em Estudos Artísticos - Arte e Mediações pela mesma instituição. Dirige com Eduardo Guerra, desde 2010, o projeto artístico Musa paradisiaca, finalista dos Prémios EDP Novos Artistas (2013) e Sonae Media Art (2015). Foi assistente curatorial na Galeria Zé dos Bois (2008-2010) e coordenador da programação “Aguêdê-Alê”, em São Tomé e Príncipe (2010-2013).
Intercessores, Autores e Fabulação no Cinema
Susana Viegas (susanaviegas@fcsh.unl.pt)
FCSH/NOVA
Como relacionar a forte presença da ‘politique des auteurs’ nos textos que Deleuze dedicou ao cinema com a sua conceção de ‘agenciamento coletivo’? Se, por um lado, o cineasta pode ser considerado como o autor de um filme, também é verdade que este resulta do esforço coletivo. No entanto, há práticas cinematográficas que questionam as duas posições: por exemplo, um documentário de fabulação, filme no qual um ator não profissional faz de si próprio e conta a sua própria história, define-se pela tripla implicação cineasta-filme-espectador. A função dos ‘intercessores’ é precisamente o agenciamento coletivo de fabulação fílmica. Close-Up (1990), de Abbas Kiarostami, suscita-nos diversas dúvidas: é Sabzian uma mera criação de Kiarostami (uma leitura paternalista, segundo Foucault) ou é Kiarostami guiado por Sabzian e pela sua história (em discurso indireto livre, diria Deleuze)? Há aqui uma conjugação de forças tendo em vista um agenciamento coletivo. Todos os atores são intercessores. O próprio filme revela-se como sendo fabulador no sentido em que é apanhado “em flagrante delito de fazer lendas” (Deleuze, A Imagem-Tempo) mas, para além disso, estas personagens reais fabulam-se a si mesmas.
Susana Viegas
Investigadora em Filosofia do Cinema na Universidade Nova de Lisboa. Concluiu o Doutoramento em Filosofia (Estética) em 2013 com uma dissertação sobre a filosofia do cinema em Deleuze. Em 2019 concluiu um pós-doutoramento financiado pela FCT na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Deakin, “Rethinking the Moving Image and Time in Gilles Deleuze’s Philosophy”. Susana Viegas é editora/fundadora da “Cinema: Revista de Filosofia e da Imagem em Movimento.
Autoria em movimento na era digital: como a arte baseada em inteligência artificial está a desafiar a nossa atitude face à autoria coletiva | EN
Sarah Fassio (Fassio@europa-uni.de)
Europa-Universität Viadrina Frankfurt (Oder) – Chair of Cultural Management Viadrina
Desde a venda de Portrait of Edmond De Belamy na leiloeira Christie’s por 432.500 dólares em outubro de 2018, a questão da autoria artística que envolve inteligência artificial (AI – artificial intelligence) atingiu um novo patamar. Criada através de inteligência artificial, a obra do coletivo artístico Obvious, baseado em Paris, foi alimentada por um conjunto de dados de mais de quinze mil retratos datados do século XIV ao século XX. O evento recebeu atenção internacional: pela primeira vez na história, uma leiloeira vendeu AI-art, gerando um debate acerca da autoria – coletiva, assim como humana versus computacional.
No mercado da arte tradicional, as estatísticas de vendas, tal como os catálogos de leilões, mostram uma preferência pelos criadores individuais. À medida que mais AI-art entra no mercado da arte, a atitude atual face à autoria necessita de revisão. No caso de Portrait of Edmond De Belamy, podemos identificar uma série de coautores potenciais, incluindo o coletivo artístico, bem como os criadores do algoritmo. Até agora, os projetos artísticos que envolvem AI haviam sido criados por motivos experimentais, e não para gerar vendas. Contudo, com a emergência da AI-art enquanto mercadoria frequentemente negociada no mercado da arte, a questão da autoria já não é meramente simbólica. A situação legal da autoria coletiva que envolve aprendizagem baseada em máquinas varia de país para país, e demonstra a necessidade de legislação transfronteiriça.
Sarah Fassio
É investigadora associada no Chair of Cultural Management – Europa-Universität Viadrina Frankfurt (Oder), com vários anos de experiência profissional na cena artística e de galerias de arte de Berlim. Estudou História da Arte na Freie Universität Berlin e possui o grau duplo (francês e alemão) de Mestre em Artes e Gestão Cultural. A sua investigação académica foca-se nas interdependências entre o mercado da arte digitalizado e o seu impacto no estatuto da obra de arte.
Mesa 4 | Dia 2 | 20 NOV | 12h10-13h30 | PT | Moderadora: Mariana Pinto dos Santos
EXPERIMENTAÇÃO NO CONTEXTO ARTÍSTICO PORTUGUÊS: DOS ANOS 60 AO PRESENTE (PT)
Partindo da análise de processos colaborativos no contexto artístico português das décadas de 60 e 70, este painel lança um olhar sobre as potencialidades que estes oferecem para pensar a colaboração na atualidade em áreas como o ensino artístico ou a criação plástica e coreográfica.
Reconstruir uma identidade de escola de belas-artes baseada em diálogos artísticos e colaboração com seus atores – o Porto e a ESBAP nas décadas de 1960 e 1970
Jorge Brandão Pereira (jmpereira@ipca.pt)
ID+ Universidade do Porto
Susana Barreto (susanaxbarreto@gmail.com)
ID+ Universidade do Porto
Eliana Penedos-Santiago (elianapenedossantiago@gmail.com)
ID+ Universidade do Porto
Este artigo decorre da evidência de que a colaboração nas práticas artísticas é uma das principais fontes de transferência de conhecimento num grupo de artistas formados na Escola de Belas Artes do Porto (ESBAP), entre os anos 1960 e o final dos anos 1970.
A presente investigação, promovida no contexto da pesquisa e trabalho de campo do projeto “Transferência de Sabedoria” (POCI-01-0145-FEDER029038), inclui entrevistas e trabalho documental com antigos alunos e professores de arte e design, que são as fontes primárias para testemunhos na primeira pessoa de como se observou o cenário cultural, político e social da época. Colaboração é uma palavra-chave nesses testemunhos e é frequentemente mencionada entre os entrevistados como o principal eixo de enriquecimento artístico e pessoal. As práticas colaborativas podem ser encontradas em vários modos, tais como: (i) metodologias de ensino; (ii) partilha de estudios artísticos (“atelier”) onde mestres, professores e alunos se reuniam, em diferentes locais fora da ESBAP, e que constituíram territórios de tertúlia sobre filosofia, literatura e arte; (iii) o forte relacionamento interpessoal dentro da escola; e (iv) o facto de a oferta formativa da ESBAP à época – cursos superiores de Arquitetura, Pintura e Escultura – partilhar conteúdo pedagógico, estratégia e contextos culturais no seu plano de estudos.
Com esta evidência, revela-se a combinação destas contribuições, diversas mas simultaneamente muito próximas, contribui para esboçar o perfil de uma geração brilhante de artistas e designers que lideraram a transição da prática para a academia, a partir de legados individuais para a construção de uma identidade coletiva da escola de belas-artes do Porto.
Destacamos o aumento de interesse em estudos de transferência de conhecimento, como o atual projeto “Transferência de Sabedoria”. Não é fortuito que este crescimento ocorre agora numa época de menor colaboração interpessoal, em oposição ao observado no intervalo de tempo descrito no presente artigo. O significado da colaboração alterou-se?
Jorge Brandão Pereira
IPCA Instituto Politécnico do Cávado e do Ave / ID+ Unexpected Media Lab PhD Universidade do Porto 2015, MA Universidade do Porto 2007. Professor Adjunto na Escola Superior de Design IPCA, Portugal.
Susana Barreto
ID+ Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura - Universidade do Porto PhD e PostDoc em Design na Central Saint Martins, University of the Arts Docente na área do Design na Universidade do Porto.
Eliana Penedos-Santiago
ID+ Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura - Universidade do Porto PhD em Desenho, Faculdade de Belas Artes de San Carlos - Universidade Politécnica de Valencia. Investigadora em Design na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Só o entusiasmo é que conta... pesquisa, experimentação e colaboração em Almada, Um Nome de Guerra, de Ernesto de Sousa
Mariana Marin Gaspar (marianagaspar@hotmail.com)
IHA - FCSH/NOVA
Na comunicação que proponho, procurarei identificar e problematizar um conjunto de questões que decorrem de um entendimento da colaboração, quer como metodologia de ação, quer como atitude e convicção programática, potenciadora da eliminação da compartimentação do conhecimento e da consequente contaminação de géneros e estilos, a partir de uma aproximação crítica à obra mixed media - Almada, Um Nome de Guerra (1969-1972), concebida e realizada por Ernesto de Sousa, num processo de trabalho tão experimental quanto crítico, tão lúdico quanto pedagógico, gerador de um espaço estético e social eminentemente colaborativo, não apenas na medida em que integra a participação criativa de outros artistas, como Jorge Peixinho e Carlos Gentil- Homem, mas também pela natureza expandida e aberta do projeto que, entre outras proposições, convida o espectador a juntar-se à festa, acrescentando-lhe não apenas leituras mas ações, matéria constitutiva da obra.
Almada Negreiros, que dá nome e intento ao projeto, ele próprio tido como cúmplice nesta demanda (um filme com o Almada e não um filme sobre o Almada), surge convocado de diversos modos, texto e imagem, traço e som, símbolo e ícone, numa celebração da unidade de pensamento e da multiplicidade das formas que é também pretexto para a revisão e atualização crítica dos sentidos da história, da cultura e da arte portuguesas.
Num contexto de ditadura e entre uma geração ávida de mudança, mas já num tempo de rutura e de fecunda experimentação, Ernesto de Sousa destaca-se como figura ímpar, comprometido com o seu país, num sentido glocal, e engajado com o seu tempo, entre tradição e vanguarda. Apelando à importância do convívio e ao sentido do coletivo contra o individualismo, tanto no exercício da crítica como na sua atividade “aglutinadora”, privilegiou sempre a imaginação, a relação entre arte e vida e o encontro que se transforma em acontecimento, pela partilha consequente, geradora de conhecimento. É neste sentido que Almada, Um Nome de Guerra, pode ser entendido não apenas como manifesto artístico mas, sobretudo, como uma ode à liberdade.
Mariana Marin Gaspar
Licenciada em História da Arte pela FCSH/NOVA e mestre em Comunicação e Artes pela mesma faculdade. É doutoranda e investigadora no Instituto de História da Arte da FCSH/NOVA e bolseira FCT, com um projeto de tese sobre a interação entre texto e imagem na arte contemporânea portuguesa. Membro do IHA, integra o grupo de estudos artísticos contemporâneos e o Cluster de Estudos de Fotografia e Cinema. Colabora com o IGOT-UL no contexto do projeto ÁGORA – encontro entre a cidade e as artes: explorando novas urbanidades. Paralelamente coordena um projeto de desenvolvimento cultural no campo das artes visuais sediado em Alvito, Alentejo.
Práticas Artísticas Colaborativas – Práticas Puzzle, jogo de encaixe ou jogo de encontro?
Sílvia Pinto Coelho (silvia.tengner@gmail.com)
ICNOVA-FCSH/NOVA
A pretexto da produção e realização do filme documental Grupo Puzzle (Hugo Vieira da Silva, 2001) desencadeio uma série de ecos e questionamentos que acompanham os processos colaborativos nas artes. Chamemos a uma coreografia, a um filme, ou a uma tela do Grupo Puzzle: puzzles. Que ilações poderemos daí tirar? A que fenómenos do dissenso, ou do político estão estes puzzles ligados? Digo puzzle com o duplo sentido que poderá ter a palavra em inglês: construção por encaixe concreto de peças, e «enigma» a trabalhar como paradoxo que permite a operação sem cristalização, i.e. fazer durar um equilíbrio metaestável de encontro.
Algumas frases do filme tornaram-se peças da minha própria memória que ajudam a desenvolver mapas de investigação mais ligados ao pensamento coreográfico. A partir destas frases-chave, das investigações e estudo de alguns colegas, farei uma aproximação a uma área também ligada ao pensamento coreográfico, convocando a linha da história que liga o Judson Dance Theatre e o Grand Union Group, por exemplo, aos eventos On the Edge, e Crash Landing, nos anos 1990 e às experiências coletivas da RE.AL-João Fiadeiro.
Um não-lugar poderá ser a antítese da tela enquanto lugar assinado, o lugar do autor. A atividade do Grupo Puzzle aproximava-se do não-lugar, ou antes, de um lugar que admite múltiplas inscrições. Um campo de batalha de uma “guerra” com resolução diplomática. Estratégias que antecipam a eventualidade de um conflito. A rutura sempre iminente. (cf. Paulo Cunha e Silva, 2001).
Nós éramos operários de uma ideia. Éramos os operários da história a recolher os resíduos dos outros [artistas performers]. (cf. Fernando Pinto Coelho, 2001).
No fim, estávamos apenas dois a resolver tecnicamente um problema. (cf. Gerardo Burmester sobre a finalização de um quadro a óleo do grupo Puzzle a duas mãos, 2001).
Sílvia Pinto Coelho
Coreógrafa. É investigadora no ICNOVA e prof. auxiliar convidada da FCSH-UNL. Doutorada em Comunicação e Artes (2016), mestre em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, licenciada em Antropologia, Bacharel em Dança, fez o CIDC do Forum Dança (1997-99). Formação em dança clássica na Academia Pirmin Treku (1981-93). Desde 1994 está ligada à dança contemporânea europeia. Entre 1996-2018 coreografou, produziu e participou em processos de pesquisa, coreografia, pedagogia e em filmes com colaboradores de várias áreas. Apresentou peças suas em Portugal, Berlim e Madrid, destacando Einzimmerwohnung (2004), Süss (2007), Un Femme (2009) e Capricho#2, Outra Coisa (2017).
Mesa 5 | Dia 2 | 20 NOV | 15h00-16h20 | Moderadora: Margarida Brito Alves
INTERVINDO NO ESPAÇO PÚBLICO
Nesta mesa pretende-se refletir sobre o modo como as práticas artísticas colaborativas transformam dinâmicas sociais, sustentam ou questionam modelos políticos e alteram a experiência estética da cidade.
A síntese das artes, um modelo de colaboração
Sónia Moura (soniamoura@gmx.net)
IHA - FCSH/NOVA
Resumo: Este artigo pretende dar visibilidade a uma tipologia específica de colaboração nas artes - a colaboração entre arquitetos, pintores e escultores – à luz do conceito que se desenvolveu internacionalmente nos anos do segundo pós-guerra, como síntese das artes, situando-o na esfera política e social no momento de sua maior prevalência.
A síntese das artes é um pensamento recorrente na história da arte, constituindo um dos
temas centrais das vanguardas do início do século XX, como do grupo De Stijl e da Bauhaus que, de formas diversas procuravam transcender a separação entre as artes suprimindo hierarquias artísticas e sociais. Na sua génese, este conceito recupera a ideia romântica do Gesamtkunstwerk, formulada por Richard Wagner no século XIX a propósito da unificação das artes, na ópera. O ressurgimento deste conceito e prática artística após a II Guerra Mundial, desencadeou um debate ativamente participado por vários setores da comunidade artística internacional, sobretudo na Europa e Américas. Perante a urgência de reconstrução do território europeu criou-se uma plataforma favorável ao diálogo entre arquitetos, pintores e escultores em torno de ideais comuns: a renovação do discurso relacionado com a arte moderna e a transformação do espaço público das cidades, nas vertentes social e humana - em contraponto à tendência racionalista e funcional da arquitetura moderna.
Enquadrando o reaparecimento deste debate, no espaço e no tempo - cronológico e político - este artigo pretende ainda estender este fenómeno ao contexto português onde o envolvimento neste debate pelos arquitetos e artistas portugueses se refletiu no ensino e na arquitetura.
Sónia Moura
É doutoranda em História da Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa onde é investigadora no Instituto de História da Arte com bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Mestre em Estudos Artísticos - Estudos Museológicos e Curatoriais pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (2013) e licenciada em Arquitetura pela Universidade Lusíada do Porto (2001). Atualmente estuda a colaboração entre arquitetos, pintores e escultores à luz do conceito difundido internacionalmente no segundo pós-guerra como síntese das artes, analisando o envolvimento dos artistas portugueses na prática e debate a este associado.
Grupo Acre Fez - um coletivo em ação de 1974 a 1977
Patrícia Rosas (prosas@gulbenkian.pt)
Fundação Calouste Gulbenkian
Esta comunicação procura analisar, comentar e discutir as intervenções colaborativas do Grupo Acre, formado imediatamente a seguir à Revolução de 25 de Abril de 1974, e constituído por Clara Menéres (1943-2018), Joaquim Lima de Carvalho (1940) e Alfredo Queiroz Ribeiro (1939-1975). Este coletivo atuava no espaço público urbano, elegendo a rua como lugar privilegiado, através de ações maioritariamente efémeras mas de impacto visual, político e social. Com humor e ironia, o coletivo realizou entre 1974 e 1977, seis “ações” provocadoras no espaço público. Com o intuito de instigar novos olhares, desestabilizando os interesses estabelecidos e difundindo uma apatia generalizada.
A “Ação dos círculos, guerrilha urbana”, levada a cabo em agosto de 1974 na rua do Carmo, em Lisboa, foi a primeira ação do Grupo e ilustra bem estes pressupostos: pintaram o chão da rua no centro da capital. Em outubro de 1974, estenderam uma fita de plástico amarela, do topo à base da Torre dos Clérigos, com a habitual assinatura: “Grupo Acre Fez”. No seguimento da mesma ação, emitiram à imprensa o “Comunicado nº 1”, reivindicando a ação e reafirmando os propósitos do coletivo. Logo em janeiro de 1975, anunciaram e distribuíram o “Diploma de Artista”, a quem se achasse merecedor de tal distinção. O Grupo captou a atenção de Ernesto de Sousa, que escreveu acerca desta iniciativa. Já em abril de 1975, reclamavam um ainda inexistente Museu de Arte Moderna, através da ocupação de um palacete na rua Marquês da Fronteira, em Lisboa. O “Comunicado nº 3” foi lançado a par desta intervenção, que resultou na intervenção da polícia e na detenção de Clara Menéres. Durante o verão de 1975, realizaram ainda várias gravuras a partir de tampas de saneamento.
Para os VI Encontros Internacionais de Arte das Caldas da Rainha, em 1977, realizaram o “Monumento ao 16 de março” e a “Ação de Descerramento de Lápide”. Nesta última ação, fixaram numa fachada uma placa de mármore remetendo-nos para o peso e validade do mito de D. Sebastião sobre a realidade.
O Grupo Acre defendia a liberdade de criação, uma «Arte de todos, feita por todos e para todos».
Patrícia Rosas
É curadora do Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna e coordena, desde 2019, as montagens da exposição permanente da Coleção Moderna. Destacam-se várias exposições onde trabalhou como cocuradora: sobre arte iraquiana, a exposição coletiva, Arte e Arquitetura entre Lisboa e Bagdade (2018); mostra sobre arte portuguesa e britânica e o contexto cultural dos anos 60 na Pós-Pop. Fora do lugar-comum (galeria principal da Gulbenkian, 2018); Linhas do Tempo. As Coleções Gulbenkian. Caminhos Contemporâneos (galeria principal da Gulbenkian, 2016); ou as exposições individuais sobre Salette Tavares e Júlio dos Reis Pereira, Salette Tavares: Poesia Espacial (2014); Homenagem a Julio (2013).
É coordenadora executiva do primeiro catálogo raisonné digital em Portugal, dedicado ao pintor António Dacosta. É doutoranda no curso de Estudos Artísticos – Arte e Mediações na FCSH-UNL, onde também concluiu o Mestrado em História da Arte Contemporânea.
São Paulo 1970/80: o binômio “arte coletiva e ocupação das ruas”
Jorge Bassani (jbassani@usp.br)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo
No final da década de 1970, quando a ditadura militar no Brasil dá os primeiros sinais de exaustão, na maior metrópole do país, instala-se um momento cultural em que grupos de artistas passam a assinar as suas obras, ou melhor, a assumir os atentados coletivamente. Tratava-se, não de uma oposição à ideia de autoria nas artes visuais, mas sim de potencializar as linguagens e ações com a finalidade de alcançar uma escala urbana e os códigos formais e funcionais.
Influenciada pela geração anterior que clandestinamente se opõe ao regime militar, os novos grupos propõem sair à luz do sol e participar ativamente e no mesmo período, nos jogos de construção da urbanidade. Entre estes, destacam-se o 3 Nós 3, Manga Rosa e Viajou Sem Passaporte. Sem que nenhum deles participasse nos grafites ou na “arte urbana” mural, porém, operaram sistemas tridimensionais espaciais e corporais, em que designaram as suas expressões artísticas nas ruas da cidade, como intervenções urbanas.
Esta apresentação (oral) propõe um olhar interpretativo das ações destes grupos entre 1977 e 1982 acompanhado de um percurso visual documental da época com a finalidade de alcançar avaliações relativas a três questões, em especial e todas relativas ao binómio coletivos artísticos X cultura urbana:
1. Estratégias e métodos das intervenções urbanas, a experimentação de procedimentos; 2. O trabalho coletivo enquanto prática política (polis + ica); 3. Definição de outras dimensões percetivas além da estética iluminista, persistente até ao crepúsculo da modernidade.
Jorge Bassani
Artista e arquiteto (São Paulo, 1959). Trabalha com arte urbana desde 1977, participou das primeiras ações dos coletivos na cidade com os coletivos Alienarte e Grupo Manga Rosa. 1994–97, mestre com a dissertação “As linguagens artísticas e a cidade”; 2002 – 05, tese de doutoramento “A função é a comunicação”; 2015-2019, tese de Livre Docência “Das intervenções artísticas à ação política urbana”. Professor e pesquisador no Departamento de História e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde coordena o GeMAP – Grupo de Estudos Mapografias Urbanas.
Mesa 6 | Dia 2 | 20 NOV | 16h40-18h00 | Moderadora: Cláudia Madeira
TENSÕES E DISPUTAS NAS ESTRUTURAS DE PRODUÇÃO CULTURAL
Este painel centra-se nas dinâmicas, desafios e estratégias de resolução de conflitos que emergem no seio de coletivos e estruturas de produção cultural, no âmbito das artes performativas e de processos de criação em parceria com a comunidade.
Artistas, produtores e gestores: anatomia de uma relação
Vânia Rodrigues (vaniamariarodrigues@gmail.com)
Universidade de Coimbra / CEIS 20 - Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX
A partir da experiência de trabalho concreta da autora na área da produção e da gestão cultural, propõe-se uma revisão das relações entre criação e produção e, especificamente, entre artistas e produtores, no campo das artes performativas. O foco na relação (de colaboração?) entre artistas e produtores servirá o propósito de questionar os modelos de organização e trabalho dos artistas, os seus pressupostos e a natureza das relações entre pares que se têm vindo a estabelecer. A partir da análise de um conjunto alargado de entrevistas a produtores ativos no campo do teatro e da dança, discutir-se-á sobretudo o seguinte: a necessidade de tornar visíveis os mecanismos de suporte à criação artística; a necessidade de inscrever os processos produtivos no campo ético e da solidariedade; a necessidade de uma produção emancipada, com autonomia intelectual e processual e a necessidade de resgatar as profissões de produção e gestão cultural relativamente às determinações da esfera administrativa, de pendor tecnocrata. Globalmente, defende-se um questionamento radical das formas de trabalho nas artes performativas, designadamente quanto à prevalência de modelos de trabalho demasiado hierarquizados e a urgência de uma reflexão acerca do posicionamento da produção e da gestão cultural no contexto do capitalismo neoliberal.
Vânia Rodrigues
Porto, 1979. Gestora Cultural. Consultora nas áreas de planeamento estratégico, programação e gestão cultural, desenho de projetos e parcerias internacionais para várias organizações artísticas e culturais. Até 2018, responsável pela estratégia, gestão, coprogramação e circulação internacional da companhia de teatro mala voadora. Assessora da ARTEMREDE 2014-2018. Doutoranda em Estudos Artísticos – Estudos Teatrais e Performativos, na UC. Mestre em Políticas Culturais e Gestão Cultural pela City University of London (2009). Membro do ENCATC - European Network on Cultural Management and Policy, da European House for Culture e do Conselho Municipal de Cultura da cidade do Porto.
Blogue pessoal: https://biccristalescritanormal.blog
Apontamentos de trabalho sobre “mediação” como processo de resolução- colaborativa nas disputas em práticas de arte colaborativa.
Rui Cepeda (rui.cepeda@postgrad.manchester.ac.uk )
Instituto de Práticas Culturais, Universidade de Manchester
A linha de orientação na minha proposta é a ideia de "mediação". "Mediação" vista como uma intervenção crítica e administrativa (no processo ou no relacionamento comunicativo entre as distintivas partes num relacionamento) não é uma situação que me afeta apenas a mim, como gestor de arte. É um problema que afeta a sociedade como um todo, uma vez que o conhecimento se está a expandir para além das estruturas tradicionais. "Mediação" é um termo usado extensivamente no sistema jurídico quando se trata do processo de gestão de conflitos entre duas partes. Do ponto de vista académico, considerando os meios através dos quais o sistema jurídico aborda o processo de “mediação”, este foi definido "como o ato de uma terceira pessoa que interfere entre duas partes rivais com o objetivo de reconciliá-las ou persuadi-las a ajustar ou resolver a sua disputa". A introdução de elementos externos, ou seja, artistas, na comunidade anfitriã, por meio do envolvimento destas em práticas de arte colaborativas, pode originar uma posição de disputa-colaborativa, em vez de uma disputa-contraditória. O meu dilema, quer como produtor quer como curador, é o de considerar o processo de “mediação” de uma posição em que o conflito e o confronto ainda não ocorreram. O que, por um lado, pode aumentar a compreensão do posicionamento relativo (sociocultural) da comunidade e, por outro, pode levar a um aumento do empoderamento sociopolítico e da participação cívica. Para compreender a abrangência do processo de “mediação” no campo estético, vou referir-me durante esta apresentação a duas contribuições que foram escolhidas de um conjunto de entrevistas feitas com referência direta a resultados práticos. Dois casos práticos que assumiram a forma de projetos de arte socialmente colaborativa.
Rui G. Cepeda
É um candidato ao Doutoramento (PhD) em Gestão de Arte e da Cultura pela Universidade de Manchester. Antes de ingressar no doutoramento, liderou o festival transcultural a Trienal, e desde 2014, trabalha como curador de exposições (Zhao Liang, Ningde Wang, Tatiana Macedo, Rosângela Rennó, Jane and Louise Wilson, Carlos Palma, etc.) e produtor de arte em organizações artísticas de pequena escala na Inglaterra e on-line. Desde 2007, concentra a sua prática, tanto como produtor quanto como crítico de arte, na exploração de processos artísticos nos quais a colaboração e o confronto operam; em proporcionar momentos estéticos que são mecanismos de construção da comunidade; e, na complementação de ações culturais comunicativas que informam histórias únicas – as que dão às comunidades a sua própria voz. É uma presença regular em revistas e jornais internacionais de arte. www.ruicepeda.com
A curta vida do coletivo de artistas Lisbon Codance
Ana Corrêa (ambcorrea@gmail.com )
CE3C/FCUL
Sezen Tonguz (sezentonguz@campus.fcsh.unl.pt)
GECAPA/CLEPUL
Baseado em Lisboa, Codance foi um coletivo de artistas portugueses e estrangeiros que partilharam o mesmo espaço de ensaio, oferecendo um apoio mútuo para a criação, investigação e experimentação.
Co-Dance nasceu da vontade de criar uma comunidade, partilhar processos criativos, identificar e procurar alternativas, de modo a contornar as dificuldades de criar e trabalhar de forma independente. Codance pretendeu oferecer aos artistas uma estrutura sustentável, que permitisse fazer ligações, crescer e fortalecer laços entre eles, bem como com a comunidade local.
O coletivo foi constituído por artistas de diferentes nacionalidades e formações, com diferentes percursos na dança, no teatro e na performance. Todos desenvolvem trabalho criativo em diferentes vertentes: investigação, criação de espetáculos, performance e formação. Com o aluguer e gestão comum de uma sala no Atelier Real, o Co-Dance iniciou a construção de um modelo de autogestão não-hierárquico, conseguindo suprir as necessidades individuais e manter o coletivo como núcleo e motor, até à sua dissolução na primavera de 2019, que correspondeu à desocupação do Atelier Real.
Os membros fundadores de Codance, Ana Corrêa e Sezen Tonguz, propõem uma reflexão sobre a organização do coletivo, analisando os acontecimentos entre janeiro de 2017 e maio de 2019.
Sendo um coletivo numeroso, que chegou aos 10 membros e foi constituído por uma diversidade de artistas, quais foram os desafios e conflitos na tentativa de estabelecer objetivos comuns (por exemplo, proporcionar aos seus membros espaço físico para estabelecer ligações, partilhar, investigar e/ou apresentar, inspirar ligações entre artistas, e fornecer serviços de apoio a artistas)?
Sezen Tonguz
É licenciada em engenharia ambiental. Teve formação em gestão cultural e das artes e em dança contemporânea. Como artista e produtora, colabora com vários artistas internacionais. Os seus trabalhos foram apresentados na Europa, Turquia, no Brasil e nos E.U.A. Em 2018, foi curadora convidada no âmbito do programa Artista-Curador de Ezequiel Santos para a criação de um ciclo de residências artísticas no Fórum Dança. Coordena os projetos internacionais da rede internacional (Re)union desde 2015.
Em 2019, foi-lhe atribuída a bolsa danceWEB no âmbito de Impulztanz Festival e integrou o júri da internacionalização em dança da Fundação Gulbenkian.
Mestre em Comunicação e Artes e doutoranda em Estudos Artísticos na NOVA, continua a sua pesquisa e atividade na criação artística e curadoria nas artes performativas.
Ana Corrêa
Licenciada em Biologia Vegetal e Doutora em Ecofisiologia pela Universidade de Lisboa. Começou a sua formação em dança em Granada (Espanha) em 2009, com o coletivo Enclave. Em 2013, dedica-se à criação em dança e performance, passando a fazer parte do coletivo Enclave, e em 2014-2015 frequenta a FIA-Formação Intensiva Acompanhada no C.E.M. Presentemente desenvolve projetos em dança e performance a solo e em colaboração com Julia Salem (Brasil-Lisboa), Fernando Pelliccioli e Carlos Osatinsky (Berlim-Argentina), e investigação em Fisiologia Vegetal e Mutualismos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.