A crise ecológica que hoje atravessamos é indissociável duma crise do empobrecimento das práticas e afetos que nos ligam à Terra e aos outros seres vivos. Face à perspetiva cada vez mais concreta dum planeta inabitável, é urgente imaginar uma relação mais atenta, inclusiva e generosa para com a natureza e o não-humano: uma ética da atenção e do cuidado. É neste contexto que as formas sensíveis têm um papel político a desempenhar. Inspirada por uma série de propostas ecofeministas, a historiadora Teresa Castro sugere que as imagens em movimento nos podem ajudar a alargar os limites da atenção e colaborar na fundação duma razão ecológica. Não se trata de defender que o cinema se deva colocar ao serviço dos discursos ecológicos, mas de propor que possa restaurar o maravilhamento diante do mundo, que nos é mais do que nunca necessário.

Teresa Castro é historiadora de arte e professora de Estudos Cinematográficos na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3. A sua investigação centra-se na relação entre cinema e animismo, ecocrítica e formas de vida vegetal. Publicou The Mediated Plant (E-flux, setembro 2019) e coeditou o livro coletivo Puissances du végétal et cinéma animiste. La vitalité révélée par la technique (Ed. Presses du réel, 2020).